Condiloma acuminado (HPV): o que são estas verrugas no ânus?

Condiloma acuminado (HPV): o que são estas verrugas no ânus?


O condiloma acuminado é uma lesão causada por um vírus chamado HPV (papilomavírus humano). Em geral a transmissão se dá por via sexual e a doença se caracteriza pelo surgimento de verrugas na região comprometida (ânus, pênis e vagina). Ambos os sexos são acometidos pela doença. Em relação ao HPV, este vírus é considerado extremamente contagioso, e tem um período de incubação de três semanas a oito meses. A maioria das infecções são transitórias e podem desaparecer após um período de 2 anos. No entanto, alguns pacientes evoluem com infecção persistente, e estes devem ser acompanhados com regularidade, já que alguns tipos de HPV estã associados ao desenvolvimento do câncer do ânus e colo do útero. Existem mais de 70 tipos de HPVs, e aproximadamente 35 subtipos afetam a área anogenital, sendo que o potencial de malignização varia de acordo com o vírus responsável pela infecção.

O principal sintoma do condiloma acuminado é o surgimento de uma lesão verrucosa na área afetada. No caso das mulheres, a lesão anal pode ser decorrente da extensão da infecção da infecção vulvar e perineal, ou devido ao sexo anal. Obviamente o risco de contágio aumenta com o número de parceiros sexuais. No caso dos homens, as lesões anais podem surgir em heterossexuais, mas são muito mais comumente achadas em homens que apresentam relações anais com parceiros do sexo masculino. Outros sintomas relacionados ao HPV são a coceira, sangramento e irritação da pele.

O diagnóstico da infecção pelo HPV é realizado geralmente através da visualização da área comprometida. As lesões costumam ser da cor da pele ou rosadas, planas ou com aspecto papiliforme (verrugas). A extensão da doença deve ser avaliada através do exame físico e da realização da visualização do canal anal através de um exame chamado anuscopia (exame realizado no próprio consultório médico). Atualmente é realizado um exame chamado anuscopia de alta resolução, que permite a visualização das lesões ainda em fase muito incipiente, o que é interessante no acompanhamento dos casos crônicos de infecção. Além disso, utiliza-se em alguns casos a coloração com ácido acético, que deixas as áreas comprometidas com coloração esbranquiçada, facilitando a indentificação de possíveis focos de lesão. Particularmente, eu costumo usar desta técnica com ácido acético em casos de cauterização cirúrgica. Outras formas de diagnóstico são a raspagem da pele da região anal para pesquisa de vírus, exame denominado captura híbrida, ou a realização da biópsia das lesões.

O tratamento do condiloma acuminado envolve três abordagens principais: a destruição química e física, a terapia imunológica e a excisão (retirada cirúrgica). A preferência por alguns dos métodos dependerá do número e da extensão das lesões condilomatosas. De forma geral, não existe o tratamento perfeito, já que o índice de recidiva da doença pode variar de 30 a 70% dos casos. Por isso é muito importante o acompanhamento frequente destes pacientes, com exames e consultas periódicos. No entanto, a regressão espontânea é possível, e tem sido reportada em 20% dos casos. Ainda quanto aos tratamentos, não há evidência que mostre que um ou outro tratamento é significativamente melhor ou superior a algum outro. Quanto ao método imunomodulador, ele visa aumentar a resposta do hospedeiro em relação ao vírus, e tem como principais exemplos o imiquimod (creme aplicado topicamente) e o uso de interferon alfa (terapia sistêmica).

Os agentes químicos mais comumente usados são a podofilina e o ácido tricloroacético. A podofilina é usada na pele (não deve ser usada em mucosas porque causa queimaduras), tem efeito limitado, sendo geralmente usada para lesões pequenas e em associação com outros tratamentos. A podofilina tem efeito teratogênico e de forma alguma deve ser usada em mulheres grávidas. Os efeitos colaterais da podofilina são irritação da pele e até mesmo ulceração da área submetida ao tratamento. Um agente similar a podofilina e que pode ser administrado pelo próprio paciente é a podofilotoxina, que permite com que os pacientes realizem em âmbito domiciliar, com a própria aplicação do creme em regiões afetadas. É válido lembrar que os estudos mostram que a podofilina aplicada pelo médico em consultório é mais efetiva que o uso da podofilotoxina pelo próprio paciente. Em relação ao ácido tricloroacético, este agente destrói o tecido verrucoso por estar em alta concentração (80 a 90%). Os resultados e efeitos colaterais são semelhantes aos da podofilina, mas tem como vantagem poder ser aplicado em regiões mais internas, como o canal anal, e durante a gravidez. Por esta razão, em meu consultório costumo utilizar o ácido tricloroacético para o tratamento dos meus pacientes.

Em relação à cirurgia, esta opção deve ser utilizada quando os tratamentos clínicos falharam ou se as lesões são muito numerosas e grandes. A crioterapia (congelamento) pode ser realizada em consultório, mas as exisão e cauterização cirúrgica necessita de sala de cirurgia e anestesia. Em meus pacientes, quando necessitam de tratamento cirúrgico, realizo o procedimento sob sedação e anestesia raquimedular, e faço a retirada das lesões maiores e cauterizo as lesões menores.

 

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

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Dr. Fernando Valério