23 fev 20
Glúten: como ele invade o nosso intestino?

Como já descrevi anteriormente, o AUMENTO DA PERMEABILIDADE INTESTINAL pode ser muito danoso para nosso intestino e todo o nosso corpo. A mucosa intestinal é uma membrana seletiva capaz de permitir a entrada de nutrientes e fluidos, mas que deveria impedir a entrada de microrganismos e substâncias tóxicas à nossa saúde.
Quando a permeabilidade intestinal aumenta e fica descontrolada, os agressores invadem as camadas mais profundas do intestino, causando processo inflamatório local e que se dissemina através nossa corrente sanguínea para vários órgãos.
É isso que o GLÚTEN faz!
O glúten é uma proteína formada pelas substâncias glutenina e GLIADINA. Esta última tem em sua composição pelo menos 33 aminoácidos que não somos capazes de digerir completamente. Mas este não deveria ser um problema. Muitos vegetais que comemos têm a celulose (também não digerível) em sua composição, e nem por isso ela nos causa problemas graves de saúde. Mas o glúten é especial, ele consegue “arrombar as portas” da nossa mucosa intestinal porque descobriu o segredo da fechadura, a ZONULINA.
A gliadina é capaz de estimular a produção intestinal da proteína zonulina, que aumentará a permeabilidade da mucosa intestinal, permitindo assim a sua entrada para as camadas mais profundas do intestino. Assim que isto ocorre o nosso sistema imunológico identifica a gliadina como um “corpo estranho”, e gera uma resposta inflamatória local.
Este mecanismo de defesa ocorre em todas as pessoas que comem glúten, neutralizando-o como se ele fosse uma bactéria ou um vírus que nos deparamos todos os dias, a princípio não nos causando maiores problemas. A questão é que nos celíacos este processo inflamatório não cessa por aí! Devido a uma alteração genética, a inflamação intestinal local se intensifica ainda mais com a presença do “glúten invasor”, causando atrofia da mucosa do intestino, com consequências nutricionais e digestivas. E pior, este “invasor” induz a formação de auto-anticorpos, e a partir deste momento os celíacos passarão a ter os efeitos sistêmicos e as doenças autoimunes relacionadas ao glúten.
Entender a relação entre o glúten, a zonulina e o aumento da permeabilidade intestinal foi fundamental para que hoje pudéssemos falar sobre medicamentos viáveis para pacientes celíacos e para que entendêssemos ainda mais sobre os mecanismos de algumas doenças autoimunes, como a própria doença celíaca.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca e glúten, alergias e intolerâncias alimentares e doenças intestinais funcionais.
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

Como já descrevi anteriormente, o AUMENTO DA PERMEABILIDADE INTESTINAL pode ser muito danoso para nosso intestino e todo o nosso corpo. A mucosa intestinal é uma membrana seletiva capaz de permitir a entrada de nutrientes e fluidos, mas que deveria impedir a entrada de microrganismos e substâncias tóxicas à nossa saúde. Quando a permeabilidade intestinal […]
23 fev 20
Permeabilidade intestinal aumentada: a porta de entrada para muitas doenças.

A MUCOSA INTESTINAL é a maior área de contato entre o corpo humano e o ambiente externo (mais do que a pele!). E funciona como uma “PORTA”! Permite a entrada de nutrientes e fluidos essenciais para a nossa sobrevivência, mas restringe a passagem de bilhões de bactérias, vírus, fungos, substâncias tóxicas e de alguns componentes alimentares indesejáveis que ingerimos diariamente. Este mecanismo de abertura e fechamento de portas do nosso intestino é crucial para a nossa saúde.
O intestino consegue regular o mecanismo de PERMEABILIDADE INTESTINAL através de ligações entre as células da mucosa intestinal chamadas “ZÔNULAS de OCLUSÃO” (ou junções de oclusão). É como se as células da mucosa intestinal estivessem coladas umas às outras. Por outro lado, quando acham conveniente, estas células “abrem” estas junções momentaneamente e permitem a passagem do que é importante para o nosso corpo.
A nossa mucosa intestinal funciona é como um “filtro de café”! Deixa passar a água e o maravilhoso sabor do café, mas isto não quer dizer que precisamos comer o pó! É o que chamamos de barreira semipermeável.
E quando este mecanismo seletivo falha e as camadas mais profundas do intestino são invadidas pelo que não queríamos? Passamos a sofrer com o AUMENTO DA PERMEABILIDADE INTESTINAL, o chamado “LEAKY GUT”! Este é um processo danoso que pode gerar um quadro inflamatório tanto no intestino (localmente) quanto em todo o nosso corpo (sistemicamente).
Defeitos no controle da permeabilidade intestinal participam dos mecanismos de doenças intestinais como a doença celíaca, síndrome do intestino irritável e doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn e retocolite ulcerativa). E é associado a doenças autoimunes e metabólicas como o lúpus, diabetes, esclerose múltipla, fadiga crônica, fibromialgia, doenças cardiovasculares e esteatose hepática.
O aumento de permeabilidade intestinal é ocasionado por inflamação e infecção intestinais, alimentos alergênicos, substâncias tóxicas, medicamentos, estilo de vida, drogas e alterações da nossa microbiota.
Na “festa” chamada “intestino” só os convidados devem entrar! Mas quando os “penetras” conseguem driblar a segurança a nossa saúde sofre sérios riscos!

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em doença celíaca e glúten, intolerâncias e alergias alimentares e doenças intestinais funcionais.
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

A MUCOSA INTESTINAL é a maior área de contato entre o corpo humano e o ambiente externo (mais do que a pele!). E funciona como uma “PORTA”! Permite a entrada de nutrientes e fluidos essenciais para a nossa sobrevivência, mas restringe a passagem de bilhões de bactérias, vírus, fungos, substâncias tóxicas e de alguns componentes […]
23 fev 20
Larazotide: controlando a entrada do glúten no intestino

LARAZOTIDE: CONTROLANDO A ENTRADA DO GLÚTEN NO INTESTINO!
O único tratamento indicado aos pacientes com DOENÇA CELÍACA e SENSIBILIDADE ao GLÚTEN é a restrição completa à ingestão do glúten. Ainda não há um medicamento disponível que controle efetivamente os sintomas destas doenças, reestabeleça a integridade da mucosa intestinal e previna uma série de complicações, algumas potencialmente fatais.
Felizmente estamos a alguns passos de ter em nossas mãos um medicamento que possa nos ajudar com estas questões: o LARAZOTIDE! Este medicamento atua na mucosa intestinal impedindo a entrada do glúten e controlando a permeabilidade intestinal que se encontra aumentada (leia os textos que publiquei anteriormente sobre estas questões!). Um dos mecanismos mais importantes de agressão do glúten é que ele “invade” as camadas mais profundas do intestino, gerando transtornos inflamatórios e autoimunes em pessoas geneticamente predispostas. O glúten consegue isto porque age sobre o “porteiro” da nossa mucosa, estimulando uma proteína chamada ZONULINA, que de maneira equivocada abre a porta para o invasor!
Atualmente o larazotide está em fases finais de estudo e, caso seja aprovado, entrará no mercado em alguns anos. Em laboratório (in vitro), o larazotide mostrou a melhora da integridade da mucosa intestinal reduzindo a permeabilidade e a produção de substâncias inflamatórias, assim como bloqueou a passagem do glúten pela mucosa intestinal. Quando testado em humanos o medicamento se mostrou seguro e bem tolerado. Uma boa notícia é que o larazotide é mais eficiente quando usado em doses baixas, o que diminui a incidência de efeitos colaterais. Além disso, os resultados até o momento mostram diminuição de sintomas como diarreia, dor abdominal e diminuição dos níveis de anticorpos (anti-transglutamisase). Mas ainda é preciso que se avalie melhor as alterações microscópicas da mucosa com o uso do larazotide, como a presença de células inflamatórias e atrofia intestinais.
Outro ponto muito importante é que o larazotide se mostrou útil em pacientes REFRATÁRIOS e que não respondem bem à dieta sem glúten. Este é um resultado a ser muito comemorado caso se confirme.
Portanto, os dados atuais indicam que o larazotide pode ter um efeito benéfico na tolerância a MÍNIMAS quantidades de glúten, que correspondem a ingestão inadvertida como a contaminação cruzada, melhorando a qualidade de vida dos pacientes celíacos. Mas ainda precisa ser melhor estudado em outras condições em que a permeabilidade intestinal aumentada pode ter participação, como na Síndrome do Intestino Irritável e sensibilidade ao glúten não-celíaca.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em doença celíaca e glúten, intolerâncias e alergias alimentares e doenças intestinais funcionais.
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

LARAZOTIDE: CONTROLANDO A ENTRADA DO GLÚTEN NO INTESTINO! O único tratamento indicado aos pacientes com DOENÇA CELÍACA e SENSIBILIDADE ao GLÚTEN é a restrição completa à ingestão do glúten. Ainda não há um medicamento disponível que controle efetivamente os sintomas destas doenças, reestabeleça a integridade da mucosa intestinal e previna uma série de complicações, algumas […]
18 fev 20
Helicobacter pylori: o que esta bactéria faz no nosso estômago?

HELICOBACTER PYLORI: o que esta bactéria causa no nosso estômago?
Esta é uma das infecções mais comuns em todo o Mundo e muito prevalente no Brasil (60 % da população!), causando uma série de distúrbios gástricos e sintomas digestivos. Geralmente é adquirida na infância, com maior incidência em países com restrições sócio-econômicas. A falta de saneamento básico é um alto fator de risco para a infecção, visto que a transmissão é fecal-oral. Como comparação, a incidência nos Estados Unidos é de 20%. Por outro lado, no Vietnã, Camboja e Índia, de 80%.
A bactéria tem relação com os casos de ÚLCERAS benignas de duodeno/estômago (90% dos casos são causados por ela), GASTRITE crônica, ATROFIA gástrica, LINFOMA gástrico e CÂNCER de estômago. Mas também está associada a quadros de DISPEPSIA, caracterizados por dor de estômago e desconforto pós-alimentar (distensão, náusea, eructações e refluxo gastroesofágico). Pesquisar a presença de Helicobacter pylori está indicada em todos estes casos.
Em relação à parte nutricional, a deficiência de ferro e anemia ferropriva (carência de ferro) são as alterações mais relevantes, e decorre da e inflamação e atrofia que a bactéria causa na mucosa gástrica e duodenal. A infecção pelo Helicobacter pylori deve ser sempre lembrada como possível causa de carência de ferro não explicada por outros motivos.
Também é importante se lembrar que pacientes que farão uso crônico de AAS (aspirina) e outros anti-inflamatórios, devido ao risco associado de lesões gástricas (úlcera e sangramento), devem ter o diagnóstico de infecção pelo Helicobacter pylori estabelecido previamente.
O diagnóstico é realizado através de endoscopia digestiva alta com biópsia, teste respiratório e pesquisa da bactéria nas fezes. A vantagem de se realizar a endoscopia é poder visualizar alguma lesão, e caso seja necessário, biopsiá-la para estudo. Enquanto os outros métodos são interessantes por não serem invasivos.
O tratamento consiste em utilizar medicamentos que controlem a acidez do estômago e uma combinação de antibióticos. Todos os esquemas antibióticos costumam ter duração de 10 a 14 dias, podendo haver falha de tratamento em pelo menos 10% dos casos (devido a resistência bacteriana). Por isso, é importante que se revise se a bactéria foi realmente erradicada com o tratamento realizado. E que os médicos estejam atualizados sobre os esquemas terapêutico mais eficazes para cada região.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo

HELICOBACTER PYLORI: o que esta bactéria causa no nosso estômago? Esta é uma das infecções mais comuns em todo o Mundo e muito prevalente no Brasil (60 % da população!), causando uma série de distúrbios gástricos e sintomas digestivos. Geralmente é adquirida na infância, com maior incidência em países com restrições sócio-econômicas. A falta de […]
18 fev 20
Doença Celíaca: é preciso fazer o diagnóstico!

Esta foto é a imagem da noite de Ano Novo em uma praia do nosso litoral, e que recebeu 1 milhão de pessoas!
As minhas questões são: quantos ali SÃO celíacos? Quantos SABEM que são celíacos?
A doença celíaca é uma alteração que ocorre em pessoas geneticamente predispostas, com características autoimunes e sistêmicas, sendo desencadeada por uma proteína chamada glúten. E é uma doença que ACOMETE 1% da população, mas infelizmente SOMENTE 15% dos celíacos estão diagnosticados.
Ou seja, se temos 1 milhão de pessoas nesta praia, podemos supor que aproximadamente 10.000 pessoas que estão comemorando e celebrando esta festa podem ser celíacos. Só que, infelizmente, no mínimo 8.500 podem não saber disto.
E quais as consequências desta desinformação? Esta é uma doença que causa sintomas digestivos, nutricionais, inúmeras doenças autoimunes e alterações sistêmicas. Estabelecer um diagnóstico traz uma melhora incrível na qualidade de vida, evita uma série de sintomas limitantes e o desenvolvimento de outras doenças autoimunes e câncer.
Para que estes níveis precários de diagnóstico aumentem é preciso que os mais diversos médicos especialistas se lembrem que a doença celíaca tem manifestações digestivas, neurológicas, dermatológicas, ósseas, ginecológicas, hematológicas, cardiológicas e reumatológicas. Ter um alto índice de suspeita é fundamental para que mais diagnósticos sejam estabelecidos.
Mas há um grupo de pessoas que deveria ser sempre o nosso foco: os FAMILIARES de celíacos. Por medo do diagnóstico ou de terem que mudar a sua rotina alimentar, muitos destes familiares não buscam ou se negam a ser avaliados em relação à doença. É preciso haver uma maior conscientização deste grupo de risco para que possamos incrementar os índices de diagnóstico. Este é um caminho óbvio na jornada “diagnosticando celíacos”.
O diagnóstico é realizado através de exames laboratoriais e biópsia intestinal. Mas para que estes exames sejam realmente fidedignos é preciso o glúten esteja sendo ingerido.
Por isso, JAMAIS se retira o glúten da dieta até que o diagnóstico da doença seja estabelecido ou excluído! Esta é uma informação é fundamental e deve ser sempre lembrada!

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca, intolerâncias e alergias alimentares e doenças gastrointestinais funcionais
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

Esta foto é a imagem da noite de Ano Novo em uma praia do nosso litoral, e que recebeu 1 milhão de pessoas! As minhas questões são: quantos ali SÃO celíacos? Quantos SABEM que são celíacos? A doença celíaca é uma alteração que ocorre em pessoas geneticamente predispostas, com características autoimunes e sistêmicas, sendo desencadeada […]
18 fev 20
Doença celíaca e Doença Inflamatória Intestinal: posso doar sangue?

Esta é uma pergunta frequente, com respostas conflitantes, já que os bancos de sangue se comportam de forma heterogênea a respeito de assunto.
Por isso, entrei em contato com a Dra. Araci Massami Sakashita, hematologista e coordenadora do Banco de Sangue do Hospital Albert Einstein, um dos mais rigorosos e qualificados em nosso País.
Segundo a Portaria 158 (Fevereiro de 2016) do Ministério da Saúde, os portadores de DOENÇA AUTOIMUNE QUE COMPROMETA MAIS DE UM ÓRGÃO estão definitivamente excluídos da possibilidade de doar sangue.
A DOENÇA CELÍACA é uma alteração autoimune que compromete outros órgãos, como tireóide, pâncreas, cérebro, nervos, pele, coração e fígado, por exemplo. O mesmo processo ocorre nas doenças inflamatórias intestinais (DOENÇA DE CROHN e RETOCOLITE ULCERATIVA IDIOPÁTICA), que afetam articulações, olhos, fígado e vias biliares, e pele. Todas estas doenças se enquadram neste grupo citado pela portaria.
Entendo a frustração de pacientes celíacos, com doenças inflamatórias intestinais e outras doenças autoimunes, que mesmo com os sintomas e exames controlados, não podem realizar este ato espontâneo de generosidade. Poder ajudar ao próximo doando sangue é um ato bonito e puro, já que nunca sabemos realmente quem receberá o nosso sangue. Mas existe uma regra chamada “Princípio da Precaução”, que atinge e defende os doadores e receptores de qualquer risco. E é nesta regra que a lei se baseia.
Felizmente há muitas outras maneiras de ajudar a quem precisa e nos pede ajuda, tão nobres quanto doar sangue e que não trazem restrições ou riscos.
O amor sincero não segue apenas um caminho! Basta estar atento ao que está nossa volta e saberemos como e a quem ajudar!

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca, intolerâncias e alergias alimentares, e doenças gastro-intestinais funcionais.
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

Esta é uma pergunta frequente, com respostas conflitantes, já que os bancos de sangue se comportam de forma heterogênea a respeito de assunto. Por isso, entrei em contato com a Dra. Araci Massami Sakashita, hematologista e coordenadora do Banco de Sangue do Hospital Albert Einstein, um dos mais rigorosos e qualificados em nosso País. Segundo […]