18 fev 20
Helicobacter pylori: o que esta bactéria faz no nosso estômago?

HELICOBACTER PYLORI: o que esta bactéria causa no nosso estômago?
Esta é uma das infecções mais comuns em todo o Mundo e muito prevalente no Brasil (60 % da população!), causando uma série de distúrbios gástricos e sintomas digestivos. Geralmente é adquirida na infância, com maior incidência em países com restrições sócio-econômicas. A falta de saneamento básico é um alto fator de risco para a infecção, visto que a transmissão é fecal-oral. Como comparação, a incidência nos Estados Unidos é de 20%. Por outro lado, no Vietnã, Camboja e Índia, de 80%.
A bactéria tem relação com os casos de ÚLCERAS benignas de duodeno/estômago (90% dos casos são causados por ela), GASTRITE crônica, ATROFIA gástrica, LINFOMA gástrico e CÂNCER de estômago. Mas também está associada a quadros de DISPEPSIA, caracterizados por dor de estômago e desconforto pós-alimentar (distensão, náusea, eructações e refluxo gastroesofágico). Pesquisar a presença de Helicobacter pylori está indicada em todos estes casos.
Em relação à parte nutricional, a deficiência de ferro e anemia ferropriva (carência de ferro) são as alterações mais relevantes, e decorre da e inflamação e atrofia que a bactéria causa na mucosa gástrica e duodenal. A infecção pelo Helicobacter pylori deve ser sempre lembrada como possível causa de carência de ferro não explicada por outros motivos.
Também é importante se lembrar que pacientes que farão uso crônico de AAS (aspirina) e outros anti-inflamatórios, devido ao risco associado de lesões gástricas (úlcera e sangramento), devem ter o diagnóstico de infecção pelo Helicobacter pylori estabelecido previamente.
O diagnóstico é realizado através de endoscopia digestiva alta com biópsia, teste respiratório e pesquisa da bactéria nas fezes. A vantagem de se realizar a endoscopia é poder visualizar alguma lesão, e caso seja necessário, biopsiá-la para estudo. Enquanto os outros métodos são interessantes por não serem invasivos.
O tratamento consiste em utilizar medicamentos que controlem a acidez do estômago e uma combinação de antibióticos. Todos os esquemas antibióticos costumam ter duração de 10 a 14 dias, podendo haver falha de tratamento em pelo menos 10% dos casos (devido a resistência bacteriana). Por isso, é importante que se revise se a bactéria foi realmente erradicada com o tratamento realizado. E que os médicos estejam atualizados sobre os esquemas terapêutico mais eficazes para cada região.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo

HELICOBACTER PYLORI: o que esta bactéria causa no nosso estômago? Esta é uma das infecções mais comuns em todo o Mundo e muito prevalente no Brasil (60 % da população!), causando uma série de distúrbios gástricos e sintomas digestivos. Geralmente é adquirida na infância, com maior incidência em países com restrições sócio-econômicas. A falta de […]
18 fev 20
Refluxo gastroesofágico: por que os remédios não estão me ajudando?

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é “uma condição que se desenvolve quando o conteúdo do estômago reflui para o esôfago causando sintomas e complicações”.
Tradicionalmente, a DRGE é tratada com medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estômago (omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol), mas em pelo menos 30% DOS CASOS ESTES MEDICAMENTOS NÃO FUNCIONAM! Por quê?
A primeira razão é que estes medicamentos conseguem controlar bem o refluxo ácido, mas NÃO SÃO EFETIVOS quando o REFLUXO é NÃO-ÁCIDO ou levemente ALCALINO. Sabe-se que 28% dos episódios de refluxo são deste tipo. Os exames comuns para o diagnóstico da DRGE (pHmetria) não identificam este refluxo atípico. Na prática, os medicamentos que controlam a acidez são muito efetivos quando o paciente tem o esôfago claramente exposto ao ácido, sente queimação e regurgitação, ou quando há inflamação (esofagite).
Mas há duas CAUSAS FUNCIONAIS interessantes que explicam pacientes sintomáticos que não respondem aos medicamentos tradicionais, e que não apresentam sintomas e alterações típicas do refluxo. São elas:
– REFLUXO HIPERSENSÍVEL: ocorre quando episódios de refluxo fisiológico (sim, nós todos refluímos algumas vezes ao dia!) já são capazes de nos causar sintomas, algo que não deveria ocorrer.
– QUEIMAÇÃO FUNCIONAL: ocorre sem que qualquer estímulo de refluxo seja identificado, seja ele fisiológico ou patológico. Na verdade, neste caso há a presença de sintomas, mas não há um refluxo real. Não há uma causa orgânica ou estrutural que justifique o quadro.
E como estes quadros funcionais se desenvolvem?
– devido a presença de esofagite microscópica, que são lesões esofágicas não aparentes na endoscopia e só visíveis ao microscópio. Esta inflamação compromete a “barreira” esofágica, expondo os receptores sensíveis do esôfago e gerando dor torácica e queimação.
– aumento de sensibilidade dos receptores nervosos do esôfago e central (cérebro). Ou seja, o estímulo começa no esôfago, mas o cérebro também é estimulado. Isto faz com que a área de dor aumente e se irradie a pontos mais distantes, como tórax e abdome.
– fatores psicológicos que aumentam a percepção dos sintomas.
– diminuição da espessura da mucosa esofágica e aumento da sua permeabilidade, tornando o esôfago mais sensível à agressões (tanto do refluxo quanto alimentares).
Portanto, fica aqui o recado! Devemos estar atentos a outros mecanismos causadores de sintomas de refluxo e lembrar que nem sempre o tratamento tradicional (que reduz a acidez do estômago) é eficaz. Em casos atípicos é preciso que se pense além do óbvio.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é “uma condição que se desenvolve quando o conteúdo do estômago reflui para o esôfago causando sintomas e complicações”. Tradicionalmente, a DRGE é tratada com medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estômago (omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol), mas em pelo menos 30% DOS CASOS ESTES MEDICAMENTOS NÃO […]
19 jun 18

A Gastroenterologia é a especialidade médica ligada ao estudo dos distúrbios digestivos. A Nutrologia é a especialidade médica relacionada ao estudo dos alimentos e a sua relação com a nossa saúde e doenças. Como o aparelho digestivo tem como principal função a ingestão, digestão e absorção dos alimentos, é óbvio que o estudo destas especialidades se complementam de maneira muito produtiva.  Na minha prática médica vivo isto de maneira muito interessante, já que o profundo entendimento das doenças digestivas me permitem entender as alterações ocorridas e as suas consequências, avaliar e solicitar os exames necessários prontamente, indicar tratamentos medicamentosos e, principalmente, orientar a alimentação e dieta a serem seguidas.

O gastro nutrólogo pode atuar em diversas doenças digestivas e trazer ótimos resultados aos seus pacientes, visto que consegue ter uma visão global de tudo que envolve a doença digestiva e os seus aspectos alimentares. Vou citar abaixo algumas doenças em que a abordagem de um gastroenterologista nutrólogo pode ser muito útil:

Doença diverticular (diverticulose) e diverticulite aguda:
Orientar a alimentação adequada para que pacientes com doença diverticular não sofram com novas crises de diverticulite aguda. E também orientar tratamentos medicamentosos (antibióticos) e dieta durante o quadro de diverticulite aguda, e posteriormente a   crise.

Doença Celíaca (intolerância ao glúten), intolerância à lactose, sensibilidade ao glúten não celíaca e alergias alimentares:
O médico pode através da história clínica suspeitar de algumas destas alterações do aparelho digestivo, solicitar os exames laboratoriais e de imagem (endoscopia digestiva alta), corrigir as consequências nutricionais destas alterações, e indicar uma dieta adequada como forma de tratamento.

Diarreia e constipação crônica:
Avaliar as possíveis causas de diarreia (infecciosas, doenças funcionais e inflamatórias), indicar tratamentos medicamentosos e dieta constipante. Por outro lado, também pode avaliar os motivos de alterações de defecação e constipação intestinal, além de orientar dieta rica em fibras e laxativas.

Aumento de gases intestinais e Síndrome do Intestino Irritável (SII):
Tratar os pacientes que sofrem da SII com medicamentos específicos, e orientar quais os alimentos que podem levar ao aumento da flatulência (gases) e diarreia.

Doenças inflamatórias intestinais:
As colites, como a Doença de Crohn e a Retocolite ulcerativa, são doenças complexas e que podem evoluir com quadros de deficiência de minerais, vitaminas e proteínas. Por isso o gastroenterologista nutrólogo deve se preocupar em fazer uma avaliação da composição corporal e dos níveis de vitaminas e minerais no sangue, com a possibilidade de correção destes distúrbios nutricionais consequentes à inflamação intestinal.

Gastrite, dispepsia, refluxo gastroesofágico e esofagite:
O esôfago e estômago são os primeiros órgãos do aparelho digestivo a receberem os alimentos após a deglutição, e portanto podem sofrer com a ingestão de alimentos que tragam algum desconforto ou lesão. Na prática médica, é possível que se faça a avaliação destas lesões através de endoscopia digestiva alta, que se trate com medicamentos específicos e que se oriente a parte alimentar.

–  Esteatose hepática:
A esteatose é o aumento do depósito de gordura no fígado, e está muito relacionado a obesidade e aumento de glicemia/diabetes. Nestes casos é importante avaliar a integridade do fígado e prevenir inflamações decorrentes do depósito de gordura no órgão, assim como orientar uma alimentação adequada para o controle da obesidade e de glicemia e diabetes.

Descrevi neste artigo as alterações digestivas mais importantes e que trato em minha prática clínica associando os conhecimentos de gastroenterologia e nutrologia,  e mostrando como as associação das duas especialidades é interessante e extremamente produtiva aos pacientes que sofrem com estes distúrbios.

 

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

A Gastroenterologia é a especialidade médica ligada ao estudo dos distúrbios digestivos. A Nutrologia é a especialidade médica relacionada ao estudo dos alimentos e a sua relação com a nossa saúde e doenças. Como o aparelho digestivo tem como principal função a ingestão, digestão e absorção dos alimentos, é óbvio que o estudo destas especialidades se […]
06 abr 15
Esôfago de Barrett: conduta atual no controle e tratamento desta complicação do refluxo gastroesofágico

Dr Fernando Valerio - Blog - Barett
O refluxo gastroesofágico é uma alteração gastrointestinal em que o conteúdo do estômago (suco gástrico) reflui para o esôfago. O problema é que o esôfago não possui a capacidade de suportar a agressão do líquido refluído (ácido ou alcalino) sem que ocorra algum processo inflamatório. Por esta razão, em alguns pacientes, o revestimento interno do esôfago (mucosa) tenta se adaptar, gerando a troca do tecido do esôfago pelo tecido do intestino, que é mais resistente. Este processo em que um tipo de célula é substituído por outro é chamado de metaplasia, e é consequência da agressão crônica contra um tecido. Esta adaptação celular no esôfago, chamada de metaplasia intestinal, foi descrita por um médico chamado Barrett, e por isso a lesão recebe até o hoje o seu nome (esôfago de Barrett). O interesse maior neste assunto decorre do fato de que tanto o refluxo gastroesofágico quanto o esôfago de Barrett são fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de esôfago (adenocarcinoma de esôfago). O esôfago de Barrett não causa sintomas, mas devido à sua relação com o câncer de esôfago, considero importante discutir este tema, descrevendo os métodos atuais de acompanhamento e tratamento desta lesão. (mais…)

O refluxo gastroesofágico é uma alteração gastrointestinal em que o conteúdo do estômago (suco gástrico) reflui para o esôfago. O problema é que o esôfago não possui a capacidade de suportar a agressão do líquido refluído (ácido ou alcalino) sem que ocorra algum processo inflamatório. Por esta razão, em alguns pacientes, o revestimento interno do […]
03 mar 15
Gastrite crônica: Helicobacter pylori e gastrite auto-imune.

Dr Fernando Valerio - Blog - Gastrite Cronica
O termo gastrite representa a inflamação da camada interna do estômago, chamada de mucosa. A gastrite crônica representa a inflamação que ocorre por períodos mais longos ou em episódios repetitivos. A gastrite crônica é muito vista pelos Gastroenterologistas, visto que a endoscopia digestiva alta (principal método diagnóstico) é um exame realizado com muita frequência. Este tipo de gastrite é geralmente classificada de acordo com a sua causa em infecciosa (bacteriana e parasitária), autoimune, alérgica, medicamentosa (anti-inflamatórios) e dietética (álcool). O objetivo deste artigo é discutir as principais causas de gastrite crônica, os sintomas mais comuns e os tratamentos aplicados. (mais…)

O termo gastrite representa a inflamação da camada interna do estômago, chamada de mucosa. A gastrite crônica representa a inflamação que ocorre por períodos mais longos ou em episódios repetitivos. A gastrite crônica é muito vista pelos Gastroenterologistas, visto que a endoscopia digestiva alta (principal método diagnóstico) é um exame realizado com muita frequência. Este […]
01 fev 15
Obesidade e refluxo gastroesofágico: qual a relação entre estas doenças?

Obesidade
A prevalência de quadros de obesidade aumentou muito nos últimos 20 anos. O mesmo aconteceu com os casos de refluxo gastroesofágico. Esta relação não é casual e há uma interligação clara entre estas duas alterações de saúde. O refluxo gastroesofágico é uma das muitas doenças que se relacionam claramente com a obesidade. Por isso, este artigo tem como objetivo discutir o impacto do sobrepeso e obesidade sobre o refluxo, assim como o impacto na redução de peso sobre os sintomas e complicações desta doença gastroesofágica. (mais…)

A prevalência de quadros de obesidade aumentou muito nos últimos 20 anos. O mesmo aconteceu com os casos de refluxo gastroesofágico. Esta relação não é casual e há uma interligação clara entre estas duas alterações de saúde. O refluxo gastroesofágico é uma das muitas doenças que se relacionam claramente com a obesidade. Por isso, este […]