Sejamos, pelo menos, gentis.

Regularmente visito os meus pacientes em Hospitais, em decorrência do período em que estão internados. Mas esta semana observei algumas cenas que me chamaram a atenção. Em um destes Hospitais, considerado por muitos o melhor deste País, consegui passar a semana inteira sem ouvir um bom dia ou boa tarde de algum médico, principalmente em elevadores. Pior que isto, eu não era respondido quando tinha a iniciativa de cumprimentá-los. Em um destes dias cheguei à conclusão de que algo sério estava acontecendo: um médico “furou” a fila na entrada do estacionamento dos médicos, e ao sair do carro, agiu como se nada tivesse acontecido, ou que a minha presença na fila fosse apenas uma casualidade que não lhe importava.Agora pense comigo, estamos falando de pessoas que estudaram nas melhores escolas particulares, cursaram as melhores Faculdades de Medicina, quase todos visitaram ou moraram em Países desenvolvidos, e mesmo assim agem com tal deselegância. A minha preocupação é que se pessoas com este grau de preparo intelectual agem desta forma, como podemos acreditar que poderemos viver em uma Sociedade digna de respeito. Em alguns momentos cheguei a pensar que a minha presença nos elevadores ou corredores não inspirassem um gesto de atenção. Mas não é isso. Vivemos em um País em que as pessoas acreditam que ser “diferenciado”, ou seja, ter um nível de conhecimento acima da média ou um bom salário, lhes dá o direito de descartar o respeito ao próximo. Que bom se as pessoas se preocupassem em serem “distintas”, situação em que a boa educação independe da renda ou da preparação acadêmica.

Em relação à Medicina, acredito que esta arte se baseia no amor ao ser humano, e que este amor não se refere a um sentimento de afeto, e sim ao respeito. Se um cidadão não respeita nem mesmo os seus pares, como respeitará alguém que entrou em sua sala para uma consulta ou se preocupará em entender de forma mais ampla as queixas dos seus pacientes. Lembre-se, minutos antes ele foi incapaz de responder a um simples “bom dia” de um colega de profissão. Nós não podemos abrir mão da gentileza, que mais do que um rigor da etiqueta social, é acima de tudo, um gesto de carinho e dignidade. Pessoalmente, recebo os meus pacientes na porta da minha sala, os cumprimento de forma atenciosa, e em alguns momentos chego até mesmo a levá-los até a porta do consultório no momento da saída. Estas atitudes não representam gestos pensados e “marketeiros”, e sim demonstram apenas boa educação, que é o mínimo que se espera de um médico, e a qual orgulho-me de possuir. Este comportamento é compartilhado com todos que me cercam, como os porteiros do meu prédio, zeladores, caixas de supermercados e padarias, garçons e manobristas, por exemplo. Garanto que eles se sentem muito melhores quando são tratados de forma igual e respeitosa, do que quando são tratados com a arrogância e prepotência a que fui submetido.

Tome a iniciativa de ser gentil. “Quem dá uma flor, tem o privilégio de ser o primeiro a sentir o seu perfume. Quem joga lama nos outros, tem o desgosto de ser o primeiro a se sujar”.

Postado por:

Dr. Fernando Valério