A gravidez e as alterações gastrointestinais

A gravidez e as alterações gastrointestinais

A gravidez é um período de extrema felicidade para os Pais e para toda a Família. No entanto, a gestante passa por diversas adaptações físicas, que chegam a influenciar a fisiologia da maior parte dos sistemas, como o cardiovascular, o respiratório e o metabólico. Obviamente, o sistema digestivo também é acometido, e de forma muito nítida, já que há um grande aumento dos hormônios femininos. Este artigo tem como finalidade discutir as principais alterações sofridas no sistema gastrointestinal durante a gestação.

As alterações já se iniciam na boca, com o aumento da incidência de gengivites, que podem acometer mais de 50% das gestantes. Por isso, é importante que a grávida tenha acompanhamento odontológico, e que uma boa higiene diária seja realizada. Saiba que alguns estudos sugerem que a gengivite pode estar associada a partos prematuros, e por isso é importante que a lesão gengival seja tratada e prevenida. Outra alteração na boca, seria a alteração do paladar, mas que não tem repercussão mais séria.

Outra alteração gastrointestinal muito comum é o refluxo gastroesofágico, que acomete entre 30 a 50% das gestantes, principalmente nos primeiro e terceiro trimestre, e que evolui com melhora após o parto. O refluxo pode persistir em mulheres que já tinham esta doença antes da gravidez, e pode se repetir em gestações subsequentes. A principal teoria para explicar este acontecimento é que os hormônios femininos aumentados poderiam causar um relaxamento do esfíncter inferior do esôfago, que funciona habitualmente como uma barreira competente que  impede o retorno do suco gástrico para o esôfago, e desta forma, os sintomas de refluxo. No terceiro trimestre ainda há o aumento da pressão intra-abdominal, já que o feto e útero ocupam grande espaço dentro da cavidade abdominal.

Em relação ao funcionamento intestinal, as alterações mais relacionadas à gravidez são a constipação intestinal, as hemorróidas e a fissura anal. A constipação intestinal, e a flatulência e distensão gasosa associadas podem acometer de 16 a 39% das gestantes, com uma diminuição para 12% após o parto. A constipação e a flatulência são decorrentes da alteração de motilidade intestinal, também relacionada aos hormônios femininos em níveis elevados. A melhor maneira de se tratar a constipação neste período é a dieta rica em fibras (e suplementos de fibras), que aumentam o volume fecal, lubrificam o tubo digestivo e estimulam a motilidade intestinal. O uso de laxantes não é indicado, já que algumas destas medicações são associadas a mal formações congênitas, contração uterina, aumento da retenção de sódio e diminuição da absorção de vitaminas.

As hemorróidas são dilatações das veias anais, e podem acontecer em situações de aumento de pressão, e são mais comuns no terceiro trimestre e no período pós-parto. As hemorróidas afetam de 30 a 40% das gestantes, e podem causar desconforto, prurido e sangramento. Desta forma, as mulheres que já têm algum distúrbio relacionado a hemorróidas previamente a gravidez, devem fazer acompanhamento com Proctologista. Além disso, devido a constipação, com possibilidade de evacuação de fezes volumosas e ressecadas, também há um aumento da incidência de fissuras anais, que são lesões ou feridas ulcerosas na região anal, e que têm como característica principal a dor ao evacuar.

Como se pode observar, a gravidez pode requerer alguns cuidados em relação ao Sistema Digestivo, e quanto maior a orientação melhor será o período gestacional e de pós-parto.

Postado por:

Dr. Fernando Valério