Constipação Intestinal: sintomas e tratamento

Constipação Intestinal: sintomas e tratamento


A constipação intestinal é a queixa digestiva mais comum na população geral, acometendo 15% das pessoas, sendo mais frequente nas mulheres, maiores que 60 anos e em sedentários. As principais causas da constipação crônica são alterações primárias do intestino (desordens motoras, quadros obstrutivos, Síndrome do Intestino Irritável, megacólon), alterações metabólicas (diabetes, hipotireoidismo, hipercalcemia), neurológicas (esclerose múltipla, lesões medulares, Parkinson) e decorrentes do uso de medicações. Os critérios para se definir a constipação intestinal são o esforço para se evacuar, fezes ressecadas e em pequena quantidade, sensação de evacuação incompleta, percepção de obstrução à passagem das fezes pelo ânus e reto, necessidade de manobras manuais para se realizar a evacuação (toque digital, por exemplo), e menos de três evacuações semanais. A necessidade de uso de laxantes para que ocorra a evacuação também caracteriza a constipação intestinal.

A avaliação inicial dos pacientes com constipação intestinal inclui a história clínica cuidadosa e o exame físico. Uma parte importante da história clínica inclui a definição da natureza e duração do quadro de constipação, assim como se pesquisar causas secundárias, como o uso de  medicamentos, tumores (em casos de sangramento e dor abdominal) ou distúrbios metabólicos e neurológicos. Os quadros recentes e persistentes de “prisão de ventre”, sem uma causa definida, devem ser pesquisados, para que se excluam alterações estruturais do intestino e doenças orgânicas, principalmente em idosos com anemia ou sangramento gastrointestinal oculto. O exame físico é em geral pouco elucidativo, mas pode ser útil em casos de doenças anais (hemorróidas e fissuras anais) que levam à retenção das fezes devido ao quadro doloroso local, na avaliação de alterações de força e contração da musculatura anal, e na procura por massas tumorais em reto e canal anal.

Quanto aos exames, o trânsito cólico é mais usado na avaliação dos pacientes com queixa de evacuação infrequente, e consiste em exame radiográfico que mostra a passagem de pequenos marcadores (argolas radiopacas ingeridas pelo paciente) durante o trânsito intestinal. Este exame é capaz de definir se há algum segmento intestinal em que os marcadores se acumulam ou se o paciente apresenta trânsito normal. Outro exame interessante é a defecografia, que representa a evacuação de contraste (bário) com consistência semelhante a das fezes, e que é monitorada por imagem radiológica em tempo real, mostrando assim o funcionamento intestinal e anorretal no momento da evacuação. Nos casos em que se percebe uma alteração da musculatura anal no momento da defecação, a manometria anorretal, que é um exame capaz de mostrar o trabalho da musculatura anorretal durante a evacuação, também pode ser usada. Exames de sangue (cálcio e testes funcionais da tireóide) e endoscopias (colonoscopia) não devem ser solicitados de forma rotineira, e sim em casos em que há sangramento, anemia, perda de peso, história familiar de câncer de intestino grosso e doença inflamatória intestinal e em casos de constipação aguda em idosos.

O tratamento se inicia com a determinação da causa da constipação intestinal. Causas secundárias devem ser avaliadas, como as doenças sistêmicas e uso de medicamentos, e tratadas especificamente. Assim que as causas secundárias são afastadas, a constipação deve ser associada com o trânsito cólico normal ou lento, e verificar se há alguma alteração de sinergia da musculatura anal durante a defecação. Os pacientes como constipação crônica devido ao trânsito lento devem ser tratados com alteração do estilo de vida, dieta e medicamentos. Os casos mais severos podem necessitar de cirurgia. Nos casos com alteração da musculatura anorretal, o tratamento envolve a realização de biofeedback, exercícios que relaxem a musculatura e alguns supositórios.

As alterações de estilo de vida incluem a realização de exercícios físicos e a tentativa de se diminuir o uso de laxantes, além de se estimular a evacuação após as refeições, principalmente pela manhã, quando o intestino grosso apresenta alta atividade motora. A dieta se relaciona com o aumento da ingestão de fibras e de líquidos, e é a abordagem mais fisiológica para o tratamento da constipação. Quanto às fibras, os cereais são as fibras mais eficientes e laxativas. Em alguns casos, utilizam-se formadores de bolo fecal em associação com a dieta rica em fibras, como o psyllium, a metilcelulose e a policarbofila de cálcio, que tem um efeito laxativo através da absorção de água e aumento do bolo fecal, sendo eficazes no aumento da frequência evacuatória e em tornar as fezes mais pastosas com mínimo risco de efeitos colaterais. Nos casos em que os hábitos de dieta e estilo de vida não são eficazes, há a necessidade do uso de laxativos, que têm risco pequeno, desde que não sejam usados de forma abusiva, e sempre prescritos por médicos após avaliação criteriosa do quadro.

Quanto à cirurgia, ela só deve ser indicada em casos extremos de constipação, quando o paciente já não responde a qualquer medicação, apresenta impactação das fezes e quando há inércia do trânsito cólico. Nos casos bem indicados, a maioria dos pacientes operados apresentam bons resultados, com aumento da qualidade de vida em 90% dos casos.

 

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

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Dr. Fernando Valério