Magro com exames alterados e obeso com exames normais: quem corre riscos?

Magro com exames alterados e obeso com exames normais: quem corre riscos?

Dr Fernando Valerio - Blog - Magro com exames alterados e obeso com exames normais - quem corre riscos?

É nítido e justo imaginar que um cidadão com excesso de peso apresenta riscos aumentados de desenvolver alguma doença cardiovascular durante a sua vida, e que estes são muito maiores do que das pessoas magras. Mas e se esta pessoa que sofre com a obesidade realizar uma série de exames metabólicos e todos se mostrarem normais, ainda haverá o risco aumentado? E o  inverso, uma pessoa magra e com peso ideal, mas com exames alterados, será que ela não deve se preocupar? Em razão destas dúvidas inúmeros estudos foram realizados para que se determinasse o real risco de desenvolvimento de doença cardiovascular nos diferentes grupos em relação ao peso e resultado de exames metabólicos e clínicos. O objetivo deste artigo é mostrar quem realmente está bem e quem deve se preocupar quando se pensa em peso, metabolismo e doenças cardíacas e vasculares.

De acordo com o índice de massa corpórea (IMC), que é o cálculo mais simples e usado para se determinar se uma pessoa está no peso adequado, dividiu-se as pessoas em três grupos principais: peso adequado (IMC de 18 a 24,9), sobrepeso(IMC de 25 a 29,9) e obesos (IMC maior que 30). O IMC é calculado dividindo-se o peso em gramas pela altura em metros ao quadrado. Por exemplo, um cidadão com 70kg  de peso com 1,70m de altura teria um índice de 24,22 (cálculo 70/1,70 x 1,70=24,22), e portanto estaria no peso adequado. Mas se este cidadão estivesse pesando 90kg, o seu IMC seria de 31,14, e aí ele estaria obeso.

Quanto aos exames e fatores de risco, foram utilizados como referência métodos laboratoriais e clínicos que estariam associados a distúrbios metabólicos, o que aumentaria o risco de doença cardíaca. Os métodos usados para medida de risco foram o aumento da circunferência abdominal (maior que 90cm nos homens e maior que 80cm nas mulheres), triglicérides (maior que 150 mg/dL), pressão arterial sistólica (maior que 130 mmHg), pressão arterial diastólica (maior que 85 mmHg), uso de anti-hipertensivo, colesterol HDL (menor que 40 mg/dL) e glicemia de jejum maior que 100 mg/dL ou uso de hipoglicemiantes. Quanto aos eventos cardiovasculares associados às alterações de peso e às características metabólicas estão o infarto do miocárdio, a síndrome coronariana, a angina instável, a necessidade de angioplastia ou cirurgia (ponte safena, por exemplo), e insuficiência cardíaca.

Após se estudar todas as alterações de peso e exames chegamos às conclusões, que é o que mais nos interessa nesta publicação. Será que estamos bem e seguros ou precisamos nos preocupar? Pois é, o estudo mostrou que pessoas com peso adequado e  as com sobrepeso, mas com exames normais, têm o mesmo risco de desenvolverem uma doença cardíaca, que é o mais baixo. No entanto, o maior problema da pessoa com sobrepeso, mesmo com exames normais, é que qualquer acomodação e relaxamento na dieta e/ou atividade física, pode levá-la a um quadro de obesidade. Mesmo nos quadros com fatores de risco para doença cardiovascular normais, eles tendem a aumentar nos grupos com peso adequado em relação aos com sobrepeso, e estes com relação aos obesos, e por isso a atenção ao peso é importante. E no caso dos obesos metabolicamente normais, aqueles que são banalizados por médicos e por si próprios por terem os seus exames normais? Será que estes sofrem apenas de um descompasso estético em relação à sociedade que vivemos ou estão doentes e correndo riscos? Infelizmente o problema é mais do que estético, pois há um risco aumentado para este último grupo, principalmente quando se pensa a longo prazo. Apesar dos exames se mostrarem normais, os obesos desenvolvem alterações metabólicas subclínicas e disfunções vasculares com o passar do tempo, com consequente aumento dos episódios de doenças cardiovasculares. Por esta razão, podemos afirmar que não existe a imaginada “Obesidade Benigna”, e que alguma medida deve ser tomada a fim de minimizar estes riscos. Não existe padrão “saudável” na obesidade, já que as medidas metabólicas normais se alteram inevitavelmente com o decorrer dos anos, principalmente após 10 anos de obesidade.

E quando se pensa naquelas pessoas com os exames e medidas metabólicas alteradas, o peso influencia? Os estudos mostram que a presença de alterações nos exames aumenta o risco de doença cardiovascular, independentemente do peso e índice de massa corpórea. Chama a atenção aqui de que as pessoas magras e com peso adequado, mas com fatores de risco alterados, têm o mesmo índice de eventos cardiovasculares que pessoas com sobrepeso ou obesas. O que explicaria esta questão é que pessoas magras mas com exames alterados têm uma predisposição genética a terem doenças cardiovasculares, e por isso os fatores de risco se alteram independentemente do peso, causando um aumento de glicemia e LDL (colesterol ruim) às vezes até maior do que ocorre nos que estão fora do peso ideal.

Desta forma fica óbvio entender que a obesidade deve ser vista como uma doença independente e que necessita de acompanhamento médico criterioso, sempre com o objetivo de se atingir a real saúde. Como eu já repeti em algumas publicações anteriores, o aspecto estético é o bônus por um comportamento saudável e que é relevante, mas não é o objetivo principal. Assim, evitamos comportamentos preconceituosos e buscamos padrões mais saudáveis de vida, com aumento da longevidade de vida com qualidade.

 

Postado por:

Dr. Fernando Valério