Doença Celíaca e consulta médica

Doença Celíaca e consulta médica

A CONSULTA MÉDICA é o mecanismo mais antigo para se diagnosticar e tratar pacientes com as mais diversas doenças. O meu objetivo neste post é discutir as peculiaridades das consultas para o atendimento de PACIENTES CELÍACOS. Esta publicação é especial porque não se trata de uma revisão técnica da literatura médica, e sim um relato da minha experiência pessoal e da impressão que tive em muitos atendimentos a este grupo seleto de pacientes.
– Recepção: a maioria dos celíacos já sofreu em muitas consultas improdutivas, demorou para ser diagnosticado, teve frustrações prévias por vários motivos, e chegam com muita ansiedade e esperança depositadas neste novo encontro. Carinho, atenção e acolhimento são fundamentais desde o início.
– Ouvir: celíacos sempre têm muitas histórias para contar! São muitos sintomas, consultas e exames prévios para serem rediscutidos, doenças associadas e milhares de perguntas sobre a alimentação (principalmente sobre a contaminação cruzada!). Uma vida precisa ser contada! É função do profissional ouvir, prestar atenção e valorizar todas as informações. Consultas de pacientes celíacos são, e necessitam ser, longas. Poder falar e ser ouvido é fundamental para uma relação de confiança. Por isso peço que os meus pacientes sejam pontuais (porque eu sou!) e aproveitem ao máximo o seu tempo de consulta.
– Explicar: estamos falando de uma doença crônica, complexa, socialmente restritiva e emocionalmente desgastante. Pacientes celíacos viverão com esta doença por toda a vida, e é preciso que entendam sobre ela com riqueza de detalhes. É necessário que com muita didática e paciência se discutam os pontos principais da doença. Genética (risco familiar), alterações intestinais, sintomas, carências nutricionais, doenças autoimunes, exames e dieta são todos temas importantes, e podem ser abordados com bom gosto, sem necessariamente ocorrer um “massacre” de informações técnicas.
– Segurança: o paciente celíaco precisa ter a certeza de que o profissional que o está acompanhando realmente conhece a doença, com detalhes e que se mantém atualizado. São muitas informações para serem estudadas, e os pacientes trarão as mais diversas dúvidas e necessidades. Esta com certeza não é uma doença para quem não gosta de ler!
– Aconselhamento nutricional: este é um dos pontos chaves da consulta do celíaco. Mas além de orientar a alimentação sem glúten de uma maneira genérica, é preciso que se reforce os riscos de transgressão da dieta e dos efeitos deletérios da contaminação cruzada.
– Acompanhamento: além da parte alimentar, toda doença crônica deve ser acompanhada com consultas regulares e realização de exames. Há protocolos específicos para os celíacos que contemplam a dosagem de anticorpos, marcadores de inflamação, nutrientes, endoscopia com biópsia e marcadores de doenças associadas. Os intervalos das consultas e exames são determinados pelo tempo do diagnóstico, sintomas e melhora clínica.
O objetivo aqui não foi criar um manual, cada profissional desenvolve os seus métodos da melhor maneira. Mas achei importante compartilhar a minha experiência com vocês.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca e glúten, intolerâncias e alergias alimentares, e doenças intestinais funcionais.
Membro da International Society for the Study of Celiac Disease

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