21 fev 19

A DOENÇA CELÍACA é uma alteração genética, que acomete de 1 a 3% da população. E se ela é uma doença genética, é muito justo que PAIS CELÍACOS se preocupem com o risco dos seus filhos desenvolverem a doença celíaca. Ninguém quer deixar como herança uma doença insidiosa, que traz distúrbios nutricionais e sintomas digestivos limitantes, além de uma série de doenças autoimunes correlacionadas! No entanto, sabemos que 30% da população geral têm algum gene positivo para o desenvolvimento da doença, mas que em somente 3 a 4% deste grupo isto realmente ocorrerá. Claramente há um fator ambiental, um gatilho, mas que ainda não entendemos bem!

E será que este gatilho tem relação com o modo com que introduzimos ou não o GLÚTEN na alimentação das crianças? Esta é uma preocupação de médicos e pais, e por isso alguns grupos de estudo e sociedades médicas têm se dedicado ao tema. Os questionamentos mais importantes são:

1- amamentar ou não reduz o risco da doença?

2- estar amamentando no momento da inclusão do glúten na dieta faz diferença?

3- o momento de introduzir o glúten na dieta muda algo? Três, quatro, seis, doze meses?

4- a quantidade de glúten tem importância?

5- o tipo de glúten (cereal) tem relevância?

A resposta é: NENHUMA destas medidas ou fatores se mostrou relevante para o desenvolvimento ou não da doença celíaca!

A única questão é que quando se estudam crianças com alto risco para a doença celíaca, a introdução do glúten na dieta aos seis meses de vida em vez de 12 meses antecipa o surgimento dos sintomas. E mais recentemente um estudo mostrou a associação de ingestão de glúten durante os primeiros 5 anos de vida com incidência de risco aumentado para autoimunidade celíaca e para doença celíaca em crianças com predisposição genética positiva (HLA DQ2 / DQ8 / DQ7). 

Ainda não há qualquer recomendação formal sobre a introdução do glúten em crianças com parentes de primeiro grau celíacos. Mas há uma óbvia preocupação especialmente com este grupo.

Mas lembro, o glúten é uma causa necessária para que a doença celíaca exista, e portanto é importante que se continue estudando a relação desta proteína com possíveis fatores desencadeantes.

 

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo
Especializado em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais

A DOENÇA CELÍACA é uma alteração genética, que acomete de 1 a 3% da população. E se ela é uma doença genética, é muito justo que PAIS CELÍACOS se preocupem com o risco dos seus filhos desenvolverem a doença celíaca. Ninguém quer deixar como herança uma doença insidiosa, que traz distúrbios nutricionais e sintomas digestivos […]
17 fev 19

O trato digestivo abriga um número enorme de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus. Para se ter ideia da sua importância, o número de células destes microrganismos é maior que o número total de células do nosso corpo! As partes mais proximais do trato digestivo, como o estômago, duodeno e jejuno, têm uma flora mais discreta devido a ação suco gástrico ácido. Os microrganismos presentes nesta região são portanto os mais ácido-resistentes, como o Helicobacter pylori e os lactobacilos. Por outro lado, o íleo (porção mais distal do intestino delgado) e o intestino grosso têm uma quantidade muito maior destes organismos.

A flora intestinal desempenha várias funções, como formação de uma barreira contra organismos patogênicos invasores, regulação da função motora e imunológica, digestão de alimentos, produção de vitaminas, regulação da absorção e transporte de nutrientes e água pelas células do intestino, desintoxicação de substâncias agressoras e, principalmente, manter o equilíbrio geral do trato digestivo. Obviamente não podemos banalizar tantas funções! Manter a flora intestinal saudável, o que chamamos de “eubiose”, é essencial para que mantenhamos a nossa saúde.

Então podemos dizer que quanto mais bactérias tivermos em nosso intestino mais saudáveis seremos? A resposta é NÃO! Precisamos ter uma população de microrganismos no intestino de boa qualidade e nos segmentos intestinais corretos. Caso contrário, teremos uma alteração da flora chamada “disbiose”. Um exemplo muito importante de disbiose é o “Supercrescimento Bacteriano do Intestino Delgado” (SIBO – Small Intestinal Bacterial Overgrowth), que está presente em uma série de doenças e alterações.
A SIBO se caracteriza pelo crescimento anormal de bactérias no intestino delgado, região onde estas bactérias não seriam esperadas em grande número. Esta alteração está presente em pacientes com doença celíaca, síndrome do intestino irritável, doenças inflamatórias intestinais (doença de Crohn), cirurgias gástricas e intestinais, uso crônico e exagerado de medicamentos para o estômago, diabetes, intolerância à lactose, cirrose hepática, esteatose hepática não-alcoólica e pancreatite crônica.
Os sintomas decorrentes da SIBO podem advir da má absorção de nutrientes pelo trato digestivo, do aumento da permeabilidade da mucosa intestinal, dos efeitos inflamatórios causados no intestino e da ativação da imunidade intestinal. Desta forma, as queixas mais comuns são aumento de gases intestinais e flatulência, distensão e dores abdominais, diarreia, esteatorreia (gordura nas fezes) e fezes mais “pálidas”. Em relação aos aspectos nutricionais pode haver anemia (má absorção de ferro e vitamina B12), baixo crescimento em crianças e perda de peso. Os sintomas do SIBO tendem a ser crônicas, durando meses ou anos, e com flutuação na intensidade.

O diagnóstico é feito através de teste respiratório em que se analisam os gases expirados após a ingestão de lactulose. Caso a quantidade destes gases ultrapassem certos limites, isto significa que houve a fermentação exagera, o que é causado pelo excesso de bactérias no intestino.

O tratamento da SIBO consiste em usar antibióticos com o objetivo de restabelecer a flora intestinal normal, mas probióticos também são citados. Mas como a SIBO costuma ser uma consequência a outras alterações, é preciso também tratar e controlar as doenças e medicamentos que podem ter gerado o supercrescimento de bactérias. E nos casos com deficiências nutricionais, estas precisam ser tratadas.

 

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologia e Nutrologia
Especialista em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais

O trato digestivo abriga um número enorme de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus. Para se ter ideia da sua importância, o número de células destes microrganismos é maior que o número total de células do nosso corpo! As partes mais proximais do trato digestivo, como o estômago, duodeno e jejuno, têm uma flora mais […]
06 fev 19

Diabetes mellitus é uma alteração comum em nosso meio, sendo responsável por muitos casos de cegueira, insuficiência renal grave e doenças cardiovasculares. A preocupação é que um dos tipos de diabetes, a tipo 1 (insulino-dependente), está relacionada com a doença celíaca. Sabe-se que 8 a 10% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 1 são celíacos! A associação entre a doença celíaca e a diabetes tipo 1 já foi estabelecida há mais de 40 anos. Clínicas e médicos especializados em diabetes já fazem pesquisa para o diagnóstico de doença celíaca em portadores de diabetes tipo 1, mas infelizmente alguns outros não!

Diabetes mellitus é uma doença metabólica gerada pela deficiência ou falta de insulina, um hormônio que capacita o corpo a usar e estocar o açúcar. A glicose, o açúcar mais importante para o nosso organismo, é uma fonte nutricional indispensável para o funcionamento do nosso corpo, já que é a nossa principal fonte de energia. Mas na falta de insulina, este açúcar se mantém na circulação sanguínea, causando o que chamamos de hiperglicemia. Assim, a glicose não consegue entrar nas nossas células e desempenhar a sua função.

Como forma de preservar a glicose, um nutriente tão importante, os nossos rins filtram a glicose e a devolvem para a corrente sanguínea. Em pessoas sadias, a insulina consegue reutilizar este açúcar. Mas quando há uma sobrecarga de glicose no sangue, o rim tem dificuldade de reter este excesso, e o diabético passa a urinar a glicose, evento chamado de glicosúria. Este evento causa a produção de urina excessiva, com aumento de frequência urinária e sede. E como o corpo se ressente da disponibilização da sua fonte preferida de energia, a glicose, passa a buscar energia em outros locais, como no músculo e gordura. As consequências disto são a perda de peso, de massa muscular e aumento de apetite.

Há dois tipos principais de diabetes mellitus, o tipo 1 e o tipo 2. O tipo 1 é o insulino-dependente, conhecida como diabetes “juvenil”, que é uma doença auto-imune e que ocorre principalmente em pessoas jovens, mas que pode afetar adultos. Neste caso, o sistema imunológico ataca e destrói as células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina. Por isso, o uso de insulina é imprescindível para estes pacientes. Este é o tipo de diabetes relacionado com a doença celíaca! No diabetes tipo 2, ou diabetes não-insulino-dependente, o que ocorre é uma resistência à insulina. Esta forma é mais comum em adultos, e se caracteriza pela ineficácia da insulina produzida. A diabetes tipo 2 não é uma doença autoimune, e é mais comum em indivíduos mais velhos e obesos. Esta forma de diabetes é tratada inicialmente com orientação alimentar e uso de medicamentos hipoglicemiantes orais.

Em pacientes que apresentam a doença celíaca e a diabetes tipo 1, em geral a diabetes é diagnosticada primeiro. A doença celíaca é diagnosticada posteriormente quando sintomas como retardo de crescimento (crianças) intolerância à lactose, gases intestinais, diarreia, perda de peso inexplicada, fadiga extrema, anemia e dificuldade em controlar a diabetes estão presentes. Mas como os sintomas digestivos podem estar presentes na diabetes, algumas vezes toda responsabilidade destas queixas recai sobre a diabetes, e a doença celíaca acaba sendo negligenciada, mesmo com sintomas presentes.

A associação entre as duas doenças é explicada pelos seguintes mecanismos: predisposição genética e auto-imunidade. Em relação ao aspecto genético, ambas as doenças têm relação com o genes HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Mais estudos são necessários para identificar a função específica destes genes no desenvolvimento das doenças. Além da predisposição genética há também o componente auto-imune. Neste caso, o organismo produz anticorpos contra a insulina e/ou as células beta do pâncreas, que as são as responsáveis pela produção do hormônio. Estudos mostram que crianças recém-diagnosticadas para a doença celíaca têm uma prevalência significativamente maior de apresentarem estes anticorpos do que os não-celíacos. A boa notícia é que se a criança é diagnosticada para a doença celíaca precocemente e a diabetes ainda não se instalou, a dieta sem glúten causa a diminuição dos níveis de anticorpos contra a insulina e células do pâncreas.

Após o diagnóstico de ambas as doenças, a seguintes medidas devem ser tomadas:

  1. controle dos níveis séricos de açúcar (controle de glicemia)
  2. dieta sem glúten, observando a quantidade de carboidratos
  3. reconhecer e tratar as complicações de cada doença
  4. adequação de estilo de vida e comprometimento com as mudanças

Os pacientes com doença celíaca e diabetes tipo 1 não precisam apenas evitar o glúten, mas também deve haver um balanço entre as necessidades de insulina e os níveis de atividades diárias. A resposta glícêmica para muitos produtos gluten-free pode ser rápida e intensa, e isto pode afetar os níveis de insulina e estabelecer um padrão dietético. Isto ocorre porque muitos produtos gluten-free são ricos em amido e açúcares, mas pobre em fibras, quando comparamos com produtos similares com glúten (bolos, pães, cereais, bolachas). Por isso é ainda mais importante que se aprenda a ter uma alimentação sem glúten saudável e menos industrializada, o que é bem possível quando há boa orientação nutricional.

Apesar de ambas as doenças serem diagnosticadas em qualquer idade, é muito comum que este diagnóstico seja estabelecido em crianças, adolescentes e adultos jovens. Obviamente isto traz uma série de dificuldades emocionais e sociais para este grupo. Adolescentes e adultos jovens sem estas doenças já apresentam uma série de erros alimentares comuns à idade. E acrescentar duas doenças com tanto impacto na rotina alimentar gera uma enorme frustração e dificuldade de seguimento. Não é fácil ter que perguntar aos amigos “o que”, “quando” e “onde” comeremos todas as vezes que se pensa em uma atividade social, algo ainda mais impactante para esta faixa etária. Por mais difícil que seja, é preciso que se entenda que não respeitar regras alimentares necessárias culminará em pagar um preço muito caro no futuro, com diversas comorbidades associadas à doença celíaca e a diabetes. É sempre interessante pensar em acompanhamento psicológico para o paciente e sua família. A participação em grupos de apoio também traz bons resultados, tanto pelo aspecto solidário como pela troca de informações e orientação.

E quando se inicia a dieta sem glúten, o que muda? Muda muito! Com a restrição a ingestão do glúten a mucosa do intestino começará a desinflamar e a voltar ao seu funcionamento normal. Em pacientes com quadro severo de doença celíaca, a partir deste momento os carboidratos serão melhor absorvidos e poderão ser metabolizados pela insulina. Enquanto o intestino não está totalmente cicatrizado a absorção de carboidratos é variável, e é muito importante que ocorra a adequação da dose de insulina e de carboidratos ingeridos. Com o tempo os níveis de glicose no sangue se estabilizarão e o controle glicêmico se dará com mais facilidade.
Ter uma dieta sem glúten não irá curar alguém que já apresenta a diabetes tipo 1 ou reverter as suas complicações. Mas a produção de auto-anticorpos pode desaparecer e uma dieta gluten-free, e isto teria um efeito positivo em alguém com duas doenças autoimunes. Além disso, obviamente se evitaria o surgimento de outras doenças auto-imunes relacionadas à doença celíaca. Como se sabe, quem tem doença auto-imune pode ter outra!

Dr. Fernando Valério
Médico Gastroenterologista e Nutrólogo
Especialista em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais

Diabetes mellitus é uma alteração comum em nosso meio, sendo responsável por muitos casos de cegueira, insuficiência renal grave e doenças cardiovasculares. A preocupação é que um dos tipos de diabetes, a tipo 1 (insulino-dependente), está relacionada com a doença celíaca. Sabe-se que 8 a 10% dos pacientes com diabetes mellitus tipo 1 são celíacos! A […]
20 jan 19

A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (SII) é a doença gastrointestinal FUNCIONAL mais comum, acometendo de 14 a 20% da população. A SII se caracteriza por DOR ABDOMINAL, aumento de GASES INTESTINAIS, DISTENSÃO abdominal, DIARREIA ou CONSTIPAÇÃO.
Há muitas evidências de que a FLORA INTESTINAL (microbiota) tenha papel importante no desenvolvimento desta doença em algumas pessoas. O nosso intestino tem um ecossistema que precisa viver em equilíbrio constante, e quando isto se rompe ele pode alterar o seu funcionamento normal, nos causando muitos sintomas e comprometendo a nossa QUALIDADE de VIDA.
Conseguimos justificar esta teoria pelos exemplos abaixo:
Primeiro, uma porção significativa de pacientes com a SII começou a apresentar sintomas após um quadro de gastroenterite, que geralmente são causadas por bactérias, vírus ou parasitas. Chamamos este quadro de SII PÓS-INFECCIOSA. Sabe-se que de 7 a 15% dos pacientes com gastroenterite aguda desenvolverão sintomas gastrointestinais crônicos compatíveis com o diagnóstico de SII.
Segundo, estudos sugerem que crianças submetidas a vários tratamento com antibióticos durante a infância têm probabilidade aumentada de desenvolverem a SII em algum momento da vida. Antibióticos costumam resolver as nossas infecções, mas infelizmente comprometem a nossa flora normal. E há ainda o risco de termos o intestino colonizado por microrganismos que nos prejudicam, já que a flora normal que nos protegia foi atacada”. Antibióticos devem ser prescritos com critério!
Terceiro, medidas estratégicas para a melhorar a flora intestinal, como PROBIÓTICOS, ALIMENTAÇÃO e ANTIBIÓTICOS (contra microrganismos patogênicos) oferecem alguns benefícios para pacientes com SII. Isto mostra que quando intervimos na nossa flora de maneira a estimulá-la e preservá-la, conseguimos restabelecer um ambiente sadio no nosso intestino.
PROBIÓTICOS são bactérias, que quando consumidas em quantidades suficientes, podem conferir benefícios de saúde ao seu hospedeiro. Há vários mecanismos de atividade dos probióticos que podem ajudar pessoas com a SII, como a proteção da mucosa intestinal contra bactérias patogênicas, ativando a imunidade intestinal e controlando a permeabilidade intestinal. Mas ainda enfrentamos muitos desafios quanto ao uso dos probióticos na SII e em outras doenças, como a formulação correta destes produtos, a escolha das famílias de bactérias para cada alteração, a dose correta e a manutenção da viabilidade dos microrganismos. Usar probióticos de maneira correta é muito mais complexo do que ir em uma farmácia comprar aquele probiótico que oferece o maior número de bactérias simplesmente. Alguns estudos atuais sugerem que possa haver benefício no uso de probióticos em pacientes com a SII, mas precisamos aguardar mais respostas antes tornarmos o uso de probióticos uma regra.
E a ALIMENTAÇÃO, o quanto ela nos ajuda em relação a nossa flora? Alguns alimentos de cadeia ricos em açúcares de cadeia molecular pequenas, os FODMAPs (mono, di, oligossacarídeos e polióis fermentáveis), têm digestão e absorção difíceis. Substratos não digeridos destes açúcares são fermentados por bactérias do intestino, gerando gases e exercendo efeito sobre a microbiota, permeabilidade intestinal e imunidade intestinal.
Um outro aspecto são os ANTIBIÓTICOS como forma de tratamento da SII. Na verdade, o objetivo destes medicamentos é o de controlar a microbiota através da eliminação de bactérias não desejadas em nossa flora intestinal. Alguns estudos mostram que o uso de antibióticos podem trazer melhora para os pacientes com SII.
Quanto mais entendermos esta comunidade de microrganismos que nos habita, mais chances teremos de intervir sobre ela, prevenir e tratar doenças. A Síndrome do Intestino Irritável é uma destas doenças merecem o todo o foco nesta relação microbiota-hospedeiro.

 

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologia e Nutrologia
Especialista em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais

A SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL (SII) é a doença gastrointestinal FUNCIONAL mais comum, acometendo de 14 a 20% da população. A SII se caracteriza por DOR ABDOMINAL, aumento de GASES INTESTINAIS, DISTENSÃO abdominal, DIARREIA ou CONSTIPAÇÃO. Há muitas evidências de que a FLORA INTESTINAL (microbiota) tenha papel importante no desenvolvimento desta doença em algumas pessoas. O nosso […]
11 jan 19
Gases intestinais e dieta

Muitas pessoas se queixam de FLATULÊNCIA e DISTENSÃO ABDOMINAL, sintomas associados ao aumento de GASES INTESTINAIS e que geralmente trazem desconforto e constrangimento. A produção de gases é variável entre as pessoas, mas está associada a hábitos alimentares e fatores individuais. Além disso, os gases intestinais podem estar presentes em algumas doenças intestinais, como a doença celíaca e sensibilidade ao glúten, constipação intestinal, síndrome do intestino irritável, alergias alimentares, alterações da flora intestinal e em quadros obstrutivos do intestino.
IDENTIFICAR AS CAUSAS DOS GASES INTESTINAIS AUMENTADOS É IMPORTANTE!
Este é um sintoma que deve estimular a procura por um diagnóstico correto, visto que está associado a doenças relevantes, como a doença celíaca e câncer, por exemplo.
A produção de gás no intestino é decorrente da ação fermentativa de bactérias aí localizadas e da digestão de proteínas, açúcares e gorduras. Os gases intestinais têm em sua composição o gás carbônico, o hidrogênio e o metano.
Em relação aos açúcares, com a intenção reduzir a fermentação intestinal foi descrita uma dieta que consiste em restringir alimentos ricos em açúcares de cadeia curta e que são mal absorvidos pelo intestino. Surgiu assim a dieta “low FODMAP’s” (que significa oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis). Os FODMAP’s incluem alimentos ricos em frutose (mel, maçã, pêra, manga, melancia, frutas secas, doces), frutanos (trigo, centeio, cevada, cebola, alho, aspargos, alcachofra, brócolis), lactose (leite e derivados), galactanos (repolho, feijão, lentilha, soja) e polióis (ameixa, cogumelos, abacate, cereja, couve-flor e adoçantes artificiais). Como é possível observar, a dieta descrita baseia-se na exclusão de vários alimentos ricos em nutrientes. Por esta razão, é sempre importante que exista uma compensação nutricional para que não ocorra um desequilíbrio alimentar e para que o tempo de exclusão destes alimentos não seja exagerada.
Em relação à doença celíaca e sensibilidade ao glúten, esta proteína deve ser rigorosamente excluída da dieta. Mas sabe-se que 18% dos pacientes celíacos não responsivos a dieta sem glúten apresentam quadro de Síndrome do Intestino Irritável associado. Nestes casos a dieta Low FODMAPs pode ser interessante. Mas deve-se ter certeza absoluta de que não está ocorrendo contaminação cruzada e ingestão inadvertida do glúten.
Quanto às alergias, os desencadeantes identificados também devem ser eliminados da dieta. Também são associados a produção de gases intestinais os alimentos gordurosos e frituras, cafeína, pimentas e pimentões.

 

Dr. Fernando Valério
Especialista em Doença Celíaca, Síndrome do Intestino Irritável e Doenças Intestinais Funcionais

Muitas pessoas se queixam de FLATULÊNCIA e DISTENSÃO ABDOMINAL, sintomas associados ao aumento de GASES INTESTINAIS e que geralmente trazem desconforto e constrangimento. A produção de gases é variável entre as pessoas, mas está associada a hábitos alimentares e fatores individuais. Além disso, os gases intestinais podem estar presentes em algumas doenças intestinais, como a […]
01 jan 19
Doença celíaca e Obesidade: isto é possível?

DOENÇA CELÍACA e OBESIDADE: isto é possível?
Há alguns dias eu atendi uma paciente com diagnóstico de DOENÇA CELÍACA e ela me disse algo bastante curioso: “me falaram que eu não poderia ser celíaca por estar ACIMA do PESO”.
Não é bem assim! Precisamos estar mais atentos ao que vem acontecendo com o comportamento da doença celíaca nas últimas décadas. Pacientes com sobrepeso e obesos não são diagnosticados corretamente porque os livros médicos tradicionais sempre trouxeram a informação de que a doença celíaca estava associada a síndrome de má absorção nutricional e perda de peso. Mas estes pacientes magros e com com déficits nutricionais não são mais uma regra. O quadro clínico clássico ainda é a forma predominante de apresentação inicial da doença, mas é cada vez menos frequente. Enquanto isso, a formas subclínicas e não-clássicas (doenças autoimunes) já representam 30 a 50% dos casos no momento do diagnóstico.
Sabe-se que atualmente de 20 a 40% dos pacientes se apresentam com sobrepeso ou obesidade. Ou seja, ÍNDICES DE MASSA CORPÓREA MAIS ALTOS PODEM COEXISTIR COM A DOENÇA CELÍACA!
Mas como alguém que tem o seu intestino inflamado e com possíveis distúrbios nutricionais pode estar acima do peso? Ainda não há uma resposta concreta sobre as razões da relação entre a doença celíaca com o sobrepeso e obesidade. Mas a principal explicação é de que o corpo pode ser extremamente eficiente para absorver nutrientes em condições adversas. No caso da doença celíaca, os segmentos mais acometidos são os proximais ao duodeno, e portanto há ainda alguns metros de intestino com capacidade de absorver açúcares e gorduras que são ingeridos. Desta forma, os segmentos de intestino não afetados passam a exercer uma compensação, tornando-se mais eficientes na absorção de nutrientes. Esta situação também ocorre em doenças inflamatórias intestinais (Crohn), cirurgias bariátricas e quando grandes segmentos intestinais são retirados.
O mecanismo compensatório consiste no aumento das vilosidades e células intestinais não afetadas pela doença celíaca. Mas se o mecanismo de absorção se torna exagerado, associado a uma dieta rica em gorduras e açúcares, a obesidade pode estar presente.
O DIAGNÓSTICO DA DOENÇA CELÍACA NÃO PERMITE PRECONCEITOS! Idade, sexo e composição corporal não podem ser limitantes para que um paciente celíaco seja diagnosticado.

 

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologia e Nutrologia
Especialista em Doença Celíaca, Síndrome do Intestino Irritável, intolerâncias e alergias alimentares.

DOENÇA CELÍACA e OBESIDADE: isto é possível? Há alguns dias eu atendi uma paciente com diagnóstico de DOENÇA CELÍACA e ela me disse algo bastante curioso: “me falaram que eu não poderia ser celíaca por estar ACIMA do PESO”. Não é bem assim! Precisamos estar mais atentos ao que vem acontecendo com o comportamento da […]