18 fev 20
Refluxo gastroesofágico: por que os remédios não estão me ajudando?

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é “uma condição que se desenvolve quando o conteúdo do estômago reflui para o esôfago causando sintomas e complicações”.
Tradicionalmente, a DRGE é tratada com medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estômago (omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol), mas em pelo menos 30% DOS CASOS ESTES MEDICAMENTOS NÃO FUNCIONAM! Por quê?
A primeira razão é que estes medicamentos conseguem controlar bem o refluxo ácido, mas NÃO SÃO EFETIVOS quando o REFLUXO é NÃO-ÁCIDO ou levemente ALCALINO. Sabe-se que 28% dos episódios de refluxo são deste tipo. Os exames comuns para o diagnóstico da DRGE (pHmetria) não identificam este refluxo atípico. Na prática, os medicamentos que controlam a acidez são muito efetivos quando o paciente tem o esôfago claramente exposto ao ácido, sente queimação e regurgitação, ou quando há inflamação (esofagite).
Mas há duas CAUSAS FUNCIONAIS interessantes que explicam pacientes sintomáticos que não respondem aos medicamentos tradicionais, e que não apresentam sintomas e alterações típicas do refluxo. São elas:
– REFLUXO HIPERSENSÍVEL: ocorre quando episódios de refluxo fisiológico (sim, nós todos refluímos algumas vezes ao dia!) já são capazes de nos causar sintomas, algo que não deveria ocorrer.
– QUEIMAÇÃO FUNCIONAL: ocorre sem que qualquer estímulo de refluxo seja identificado, seja ele fisiológico ou patológico. Na verdade, neste caso há a presença de sintomas, mas não há um refluxo real. Não há uma causa orgânica ou estrutural que justifique o quadro.
E como estes quadros funcionais se desenvolvem?
– devido a presença de esofagite microscópica, que são lesões esofágicas não aparentes na endoscopia e só visíveis ao microscópio. Esta inflamação compromete a “barreira” esofágica, expondo os receptores sensíveis do esôfago e gerando dor torácica e queimação.
– aumento de sensibilidade dos receptores nervosos do esôfago e central (cérebro). Ou seja, o estímulo começa no esôfago, mas o cérebro também é estimulado. Isto faz com que a área de dor aumente e se irradie a pontos mais distantes, como tórax e abdome.
– fatores psicológicos que aumentam a percepção dos sintomas.
– diminuição da espessura da mucosa esofágica e aumento da sua permeabilidade, tornando o esôfago mais sensível à agressões (tanto do refluxo quanto alimentares).
Portanto, fica aqui o recado! Devemos estar atentos a outros mecanismos causadores de sintomas de refluxo e lembrar que nem sempre o tratamento tradicional (que reduz a acidez do estômago) é eficaz. Em casos atípicos é preciso que se pense além do óbvio.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é “uma condição que se desenvolve quando o conteúdo do estômago reflui para o esôfago causando sintomas e complicações”. Tradicionalmente, a DRGE é tratada com medicamentos que diminuem a produção de ácido pelo estômago (omeprazol, esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol, rabeprazol), mas em pelo menos 30% DOS CASOS ESTES MEDICAMENTOS NÃO […]
03 jun 19
Transtornos alimentares: quando medo de comer ganha da razão!

 

As coisas sempre vão para o lado oposto do que desejávamos quando chegam a um EXTREMO. E ter uma “ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL” e um “CORPO PERFEITO” podem estar chegando a este ponto para algumas pessoas. Faz parte da vida se preocupar com a nossa saúde, ainda mais quando grande parte da população está acima do peso e com doenças crônicas relacionadas à alimentação (diabetes, infarto do miocárdio, hipertensão arterial, câncer, hipercolesterolemia, demência, e é orientada todo o tempo a pensar em gordura, sal e açúcar. A Organização Mundial da Saúde divulga dados de que doenças não-infecciosas, e que podem ter relação com alimentação e estilo de vida, são responsáveis por 86% dos casos de morte. Mas há um ponto limite entre se cuidar e se espoliar. A atual preocupação com a qualidade e quantidade dos alimentos não é uma surpresa, na verdade sempre foi assim, seja por opção ou necessidade, mas para alguns isto tem se tornado uma obsessão.

Algumas pessoas estão confundindo transtornos alimentares (ANOREXIA, BULIMIA, COMPULSÃO ALIMENTAR, VIGOREXIA, ORTOREXIA) com um estilo de vida adequado, quando na verdade estão sofrendo de sérios PROBLEMAS DE ORDEM MENTAL. Estes transtornos afetam as pessoas fisicamente, socialmente e psicologicamente, e podem trazer consequências muito graves.

Os transtornos alimentares são uma variação de desordens expressadas através de alteração patológicas nos hábitos alimentares. E geralmente nascem como uma preocupação exagerada aos alimentos, peso corporal e forma física, mas que resultam em sérias consequências. Às vezes, até em óbito.

Os sintomas mais comuns são restrição severa de ingestão alimentar, compulsão por comida e purgação (vômitos, laxantes e excesso de exercícios físicos). Embora os transtornos alimentares possam afetar qualquer pessoa, de qualquer sexo e em qualquer fase da vida, eles são mais frequentes em adolescentes e mulheres jovens. Saiba que 13% das pessoas com menos de 20 anos de idade já experimentaram algum tipo de desordem alimentar.
As causas podem ser genéticas, personalidade (perfeccionismo e impulsividade), pressão familiar e social para ser magro e alterações no funcionamento cerebral (neurotransmissores).
Em relação ao quadro genético, alguns estudos mostram que gêmeos que foram separados e adotados por famílias diferentes, podem apresentar estes transtornos em algum momento, o que sugere um caráter hereditário da doença. Estes estudos mostram que quando um dos gêmeos apresenta o quadro de transtorno alimentar, o outro tem 50% de chances de evoluir para o mesmo problema.

Os transtornos alimentares devem ser tratados assim que percebidos, e requer uma equipe multidisciplinar e muito apoio familiar e de amigos. Esta equipe deve contemplar médicos (nutrólogo, psiquiatra), nutricionista, psicólogo, e muito amor e paciência.

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista e Nutrólogo

  As coisas sempre vão para o lado oposto do que desejávamos quando chegam a um EXTREMO. E ter uma “ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL” e um “CORPO PERFEITO” podem estar chegando a este ponto para algumas pessoas. Faz parte da vida se preocupar com a nossa saúde, ainda mais quando grande parte da população está acima do […]
21 mai 19
Infertilidade e Doença Celíaca

Fertilidade significa a capacidade que temos em gerar algo. E quando este algo é uma vida, este termo ganha o seu significado máximo. Este é o sonho de muitos casais, e especialmente algo muito especial para as mulheres, que viverão uma gestação. No entanto, sabe-se que 10% das mulheres e homens sofrem com a frustração de não conseguirem gerar uma criança. Só que 20% destes casais ficam sem a resposta a uma pergunta importante: por que são inférteis? São os que sofrem com as chamadas “infertilidades inexplicadas”. Neste caso não se encontram as famosas alterações hormonais, deformidades na tuba uterina, problemas com espermatozoides ou outras razões médicas habituais que costumam causar a infertilidade. E é no campo da infertilidade inexplicada que pode haver uma relação com a doença celíaca.

Depois de muito sofrimento, algumas mulheres descobrem que são inférteis em decorrência da doença celíaca. E infelizmente para muitas pacientes este diagnóstico só é descoberto tardiamente, quando a menopausa já chegou. Isto explica porque alguns estudos indicam porque pessoas celíacas têm menos filhos. Por isso, o médico especialista em infertilidade tem que ter sempre no seu radar a doença celíaca. Quando percebe que há um caso não justificado de infertilidade, este médico deve indicar testes para o diagnóstico da doença celíaca ou sugerir que a sua paciente procure um especialista na doença. Mas sinto lhes informar que esta conduta está longe de ser uma rotina ou de fazer parte de um protocolo de diagnóstico.

A doença celíaca tem sido associada a uma série de alterações ginecológicas e obstétricas. Estão entre elas estão o início tardio do ciclo menstrual (menarca), menopausa precoce, irregularidades menstruais, abortamentos espontâneos, comportamento sexual (diminuição da frequência sexual), bebês pequenos para a idade gestacional, mortalidade perinatal alta e pouco tempo de amamentação. Infelizmente todas estas alterações só costumam ser relacionadas à doença celíaca de forma retrospectiva.

E os homens, também podem ser a causa da infertilidade na doença celíaca? Sim! Os homens celíacos podem apresentar redução dos níveis de hormônios sexuais e redução na contagem de espermatozoides. Este quadro parece decorrer de distúrbios hormonais e nutricionais, assim como na mulher. Um estudo até reporta casos de bebês menores e gestações mais difíceis quando o pai é celíaco.

E qual o mecanismo para que a doença celíaca interfira na capacidade fértil? Ainda não há uma explicação clara, mas algumas hipóteses importantes. A primeira é a relação entre a má nutrição causada pela doença celíaca em decorrência de quadros de má absorção. Deficiências de vitaminas A e E afetam o desenvolvimento dos espermatozoides. A má absorção de micronutriente essenciais para o metabolismo de hormônios sexuais também pode ter relação com infertilidade. A segunda seria o processo inflamatório sistêmico que se instala na paciente celíaca e que também causa debilitação física. E a terceira causa seria a relação entre a doença celíaca e as doenças auto-imunes.

Felizmente, apesar de não se entender claramente como a doença celíaca poderia interferir no processo de fertilidade, é sabido que o diagnóstico precoce e a exclusão do glúten da dieta poderia ter um efeito positivo sobre a mãe, o pai e um possível bebê. Pacientes com diagnóstico de doença celíaca precoce e com imediata introdução da dieta sem glúten podem se tornar férteis depois de algum período. Lembro que é igualmente importante que as mães celíacas sejam extremamente rigorosas na exclusão do glúten durante a gestação.

O objetivo maior deste artigo é chamar a atenção para este problema tão difícil para algumas famílias, tentar conscientizar especialistas em infertilidade e explicar como a doença celíaca pode ter frustrado o sonho de muitos casais. Por isso é tão importante que estejamos sempre reforçando campanhas e informações sobre esta doença.

Sou pai e sei a profundidade do que significa ter filhos. Por isso, deixo aqui a minha sincera homenagem aos pais celíacos que conseguiram ter os seus filhos. Espero que estejam todos bem e saudáveis. Mas homenageio especialmente os “Pais do Coração”, que por desconhecimento médico tiveram seus diagnósticos realizados tardiamente, mas que foram abençoados por crianças nascidas de outro ventre e que estavam à sua espera. A doença celíaca pode inflamar o seu intestino, a sua tireoide, lhe causar diabetes e anemia, enfraquecer os seus ossos, mas jamais lhe impedirá de ter fé, força de vontade e muito amor para ser compartilhado.

Fertilidade significa a capacidade que temos em gerar algo. E quando este algo é uma vida, este termo ganha o seu significado máximo. Este é o sonho de muitos casais, e especialmente algo muito especial para as mulheres, que viverão uma gestação. No entanto, sabe-se que 10% das mulheres e homens sofrem com a frustração […]
26 mar 19

A doença celíaca é uma doença autoimune que tem bases genéticas, e é desencadeada pela ingestão de uma proteína chamada glúten. O glúten está contido no trigo, centeio e cevada, mas algumas substâncias apresentam  contaminação frequente, como a aveia. A principal característica da doença é que a ingestão do glúten desencadeia um processo inflamatório intestinal, podendo levar a manifestação de sintomas gastrointestinais e extra-intestinais. O único tratamento com resultados satisfatórios para a doença celíaca é a exclusão completa do glúten da dieta, também chamada de dieta “gluten free”. A questão é que manter esta dieta pode trazer repercussões na qualidade de vida em todos os seus aspectos, e é disso que trata esta publicação.

Muitos fatores de qualidade de vida são afetados pelas nossas doenças físicas, presença de sintomas, efeitos indesejáveis de tratamentos, prognóstico e percepção da nossa própria saúde. É sempre muito importante reconhecer que a doença celíaca e a dieta sem glúten afetam todos os aspectos da vida, incluindo fatores culturais, sociais e necessidades emocionais. Alimentar-se não é somente um necessidade fisiológica de se repor nutrientes, alimentar-se também é um momento de estar com a família e amigos, de celebrar, de se socializar. Por isso, os estudos têm mostrado baixa qualidade de vida em pacientes portadores da doença celíaca, decorrentes dos sintomas da própria doença, da natureza muito restritiva da dieta sem glúten e de prejuízos emocionais associados. Não raro, a própria família e amigos próximos do celíaco questionam a necessidade da dieta tão rígida, e muitas vezes banalizam a doença e a tratam com algo trivial, gerando um afastamento social e tristeza por parte do paciente celíaco. Por isso, há a necessidade de apoio de médicos especializados no estudo da doença celíaca, nutricionistas, sociedades e grupos de pacientes, e do próprio governo (que controla as empresas de alimentos e rege leis). Assim, há o apoio coletivo, mais segurança na disponibilização dos alimentos sem glúten e maior oportunidade de apoio e orientação emocionais.

Sabe-se que o custo financeiro da dieta sem glúten afeta negativamente a qualidade de vida de muitos pacientes com doença celíaca. Em um estudo recente, mostrou-se que os custos de uma dieta sem glúten são  240% maiores que os produtos semelhantes com trigo. Outros estudos mostram também que a rigidez no seguimento da dieta e sua natureza restritiva  tem relação clara com a diminuição da qualidade de vida. Aproximadamente 75% dos pacientes referem ansiedade e depressão pós diagnóstico, enquanto esta incidência não ultrapassava 50% antes da confirmação de que se tinha a doença celíaca. Medo e ansiedade são geralmente associados a socialização com amigos, principalmente gerado por insegurança de que algum alimento possa ter sido contaminado. Sair de casa pode ser algo tão danoso para a estrutura emocional de pacientes celíacos que em uma pesquisa médica realizada mostrou-se que 81% dos entrevistados diziam evitar restaurantes, 38% evitavam viajar e 91% levavam a própria comida quando viajavam.

Uma preocupação relevante também existe em relação às crianças e adolescentes, que estão sempre expostos a cantinas e refeitórios de colégios e lanchonetes. Principalmente nos colégios, os pais e o responsáveis pela alimentação devem estar alinhados pela segurança e bem estar dos alunos. É digno que um adolescente possa comer com os colegas de classe ou comprar um lanche na cantina com tranquilidade e confiança, já que nesta idade fazer parte de um grupo e ter atitudes de comportamento semelhantes à maioria é algo que importa muito, que faz inclusão social e melhor desenvolvimento de relações humanas.

Todas estas informações são comprovadas pelo fato de 45% dos pacientes relatam que a doença afetou negativamente as suas atividades sociais, com amigos e em grupos. E que até 30% dos pacientes celíacos podem cursar com um quadro de depressão em algum momento.

Dr. Fernando Valério

Gastroenterologista e Nutrólogo

Especialista em Doença Celíaca e Distúrbios Funcionais Intestinais (alergias e intolerâncias alimentares, Síndrome do Intestino Irritável, diarreia crônica, constipação intestinal e alterações da flora intestinal).

A doença celíaca é uma doença autoimune que tem bases genéticas, e é desencadeada pela ingestão de uma proteína chamada glúten. O glúten está contido no trigo, centeio e cevada, mas algumas substâncias apresentam  contaminação frequente, como a aveia. A principal característica da doença é que a ingestão do glúten desencadeia um processo inflamatório intestinal, podendo […]
27 fev 19
Doença celíaca (glúten) e as alterações neurológicas

Todos nós, em algum momento da vida, experimentaremos algum sintoma ou doença neurológica. Podemos apresentar algo simples, como uma dor de cabeça ou formigamento nas extremidades, ou algo mais complexo, como convulsões, acidente vascular cerebral ou uma paralisia. A doença celíaca é uma doença genética, desencadeada pela ingestão do glúten, e que gera um potente quadro inflamatório sistêmico e uma série de doenças autoimunes. Entre os sistemas afetados, está o neurológico, incluindo nervos e cérebro.

 

Algumas vezes, as manifestações neurológicas são as únicas manifestações da doença celíaca que um paciente pode apresentar. Este tipo de sintoma atípico faz com que ocorra um retardo no diagnóstico. Estão entre estas alterações as enxaquecas, neuropatias periféricas (dormência, formigamento em extremidades, dor ou pressão, perda de sensibilidade e fraqueza), ataxia (alterações de equilíbrio) e epilepsia. (convulsões). As alterações neurológicas citadas estão presentes em 8 a 10% das pessoas com doença celíaca.

A neuropatia periférica é um termo geral utilizado para condições em que nervos das extremidades do corpo não estão funcionando da maneira esperada. Isto resulta na principalmente na perda sensibilidade normal, e os sintomas estarão relacionados ao grupo nervoso que foi afetado. Mas se há o comprometimento de uma fibra nervosa motora, perda de força na região pode ocorrer. Na doença celíaca, as parte mais distantes do corpo como as mãos, dedos, pés, dedões, face e língua podem ser afetados. Aproximadamente 10% das pessoas com neuropatia periférica sem causa óbvia podem ter a doença celíaca. 


A epilepsia é a segunda doença neurológica mais comum, perdendo apenas para o acidente vascular cerebral.  Em celíacos, a incidência de epilepsia varia de 3 a 5%. Quanto à enxaqueca, muitos pacientes com doença celíaca se queixam de vários graus de dor de cabeça, mas que melhoram em intensidade e frequência com a instituição da dieta sem glúten.

 

Em relação à ataxia, 9 a 15% dos pacientes sem causa definida são celíacos. A ataxia se refere a distúrbios de equilíbrio causados pela perda de coordenação motora e de posicionamento. Os pacientes apresentam queda fácil, instabilidade e movimentos exagerados. A ataxia é uma das síndromes neurológicas mais frequentemente associadas a doença celíaca, e geralmente encontrada sem sintomas gastrointestinais associados.
Estas alterações são causadas por deficiências nutricionais bastante comuns na doença celíaca, como carência de cálcio e vitamina B12 e por processo inflamatório que ocorre como parte da resposta autoimune.
Depois de instaladas lesões e sintomas neurológicos, a retirada do glúten pode ter um efeito variável. Por isso é tão importante ter o diagnóstico precoce da doença celíaca. Assim, evitamos que lesões neurológicas se tornem irreversíveis.

 

Dr. Fernando Valério
Gastroenterologia e Nutrologia
Especialista em Doença Celíaca e Doenças Intestinais Funcionais

Todos nós, em algum momento da vida, experimentaremos algum sintoma ou doença neurológica. Podemos apresentar algo simples, como uma dor de cabeça ou formigamento nas extremidades, ou algo mais complexo, como convulsões, acidente vascular cerebral ou uma paralisia. A doença celíaca é uma doença genética, desencadeada pela ingestão do glúten, e que gera um potente […]
26 fev 19
“Neblina cerebral e glúten: quando a alimentação afeta a meteorologia do cérebro!

A “neblina cerebral” (do inglês “brain fog”) é um dos sintomas mais comuns relacionados à DOENÇA CELÍACA e SENSIBILIDADE ao GLÚTEN NÃO-CELÍACA. Este não é um termo de origem médica, e sim a descrição de sintomas criada pelos próprios pacientes. A neblina cerebral é descrita por sintomas como confusão mental, falta de clareza ou foco visuais, e esquecimento. E não é uma alteração relacionada exclusivamente ao glúten, e pode estar presente em pessoas com insônia, distúrbios neurológicos, estresse, estágios iniciais de demência, diabetes e efeitos colaterais de medicamentos.

Vários instrumentos e métodos para avaliar a capacidade de concentração, atenção, orientação, memórias recente e tardia, capacidade de aprender e trabalhar com uma nova informação, velocidade de processamento, linguagem e funções práticas, mostraram que estas habilidades estavam comprometidas em pacientes com problemas relacionados ao glúten e com diagnóstico de neblina cerebral. Mas que melhoraram conforme os resultados das biópsias e exames laboratoriais relacionados a doença celíaca e dieta sem glúten também apresentavam melhora.

Há um estudo australiano mostrando que a função cognitiva de celíacos recém diagnosticados aumentava paralelamente a cicatrização intestinal. Concluiu-se que níveis subótimos de cognição em pacientes celíacos sem tratamento poderiam afetar a realização de atividades diárias. Antes de introduzir a dieta sem glúten, é como se estes pacientes tivessem ingerido algumas poucas doses de álcool ou sob efeito de um Jet Lag (alterações causadas por voos longos e grandes alterações de fuso horários). Isto significa que estes pacientes poderiam correr sérios riscos em atividades profissionais e ao dirigir automóveis.

Um estudo sueco foi mais além e mostrou notas discretamente inferiores em alunos universitários celíacos previamente ao seu diagnóstico quando se comparou a alunos sem a doença e com a mesma idade. Isto demonstra o enorme prejuízo que a doença causa quando é banalizada e não diagnosticada, já que pode culminar com a perda de oportunidades por menor desempenho. Felizmente este quadro se reverte na grande maioria dos pacientes após a introdução rigorosa da dieta sem glúten, geralmente após 6 a 12 meses.

E como o glúten causa a neblina cerebral? Quando há uma resposta auto-imune ao glúten há um aumento da liberação de mediadores inflamatórios que podem interferir na barreira cérebro-sanguínea, causando danos à função cerebral. Outra explicação seriam as deficiências de vitaminas e minerais associadas à doença celíaca e outros distúrbios de má-absorção nutricional, que podem causar déficits neurológicos. E por último, mas não menos importante, as alterações no eixo intestino-cérebro e microbiota intestinal. A flora intestinal interage diretamente com a nossa alimentação e aspectos emocionais/neurológicos, e poderia ter relação com a neblina cerebral.
Mais uma vez conclui-se que devemos estar atentos a todos os sintomas que se relacionam com a doença celíaca e sensibilidade ao glúten, visto que manifestações diversas, como as neurológicas, podem nos ajudar no diagnóstico, prevenindo complicações mais sérias e melhorando muito a qualidade de vida destas pessoas.

A “neblina cerebral” (do inglês “brain fog”) é um dos sintomas mais comuns relacionados à DOENÇA CELÍACA e SENSIBILIDADE ao GLÚTEN NÃO-CELÍACA. Este não é um termo de origem médica, e sim a descrição de sintomas criada pelos próprios pacientes. A neblina cerebral é descrita por sintomas como confusão mental, falta de clareza ou foco […]