Alergia e intolerância alimentar: quais as diferenças, sintomas e causas?

Alergia e intolerância alimentar: quais as diferenças, sintomas e causas?

Dr Fernando Valerio - Blog -  Alergia e intolerância alimentar

Como dizia o filósofo romano Lucretius, “o que é alimento para alguns, é um veneno amargo para outros”. Alergias e intolerâncias alimentares são alterações comuns em que sintomas são desencadeados pelos alimentos, e que se caracterizam por afetar algumas pessoas e outras não. Quando estas alergias e intolerâncias são diagnosticadas com precisão por profissionais da saúde, estes quadros são prontamente tratados evitando-se a ingestão dos alimentos desencadeadores. O acompanhamento com especialista em nutrição é muito recomendado nestes casos, visto que assim ao se evitar um tipo de alimento prevenindo os sintomas, não há repercussão nutricional de maneira geral. Por exemplo, como retirar o leite de uma criança sem que haja prejuízo na ingestão de cálcio e de proteínas? Ou como se evitar o glúten, sem que se tire as fibras da dieta de maneira exagerada? O objetivo deste artigo é discutir as diferenças entre alergia e intolerância alimentar, listando os principais exemplos de alimentos relacionados a estes quadros.
Muitos consumidores e alguns médicos classificam de maneira equivocada a resposta anormal a algum alimento como alergia alimentar, quando na verdade, apenas alguns casos são realmente decorrentes de alergias verdadeiras. Por isso, é muito importante que se determine se um alimento gera resposta alérgica ou se o indivíduo é intolerante ou sensível. A diferença primordial entre os dois quadro é que a alergia gera uma resposta imunológica, enquanto a intolerância, não. As intolerâncias alimentares em geral são bem controladas limitando-se o volume e quantidade do alimento ingerido, e a restrição completa raras vezes é necessária. Ao contrário, no caso das alergias a completa suspensão da ingestão do alimento desencadeador deve ser realizada.
Alergias alimentares são respostas imunológicas anormais a um alimento ou componente deste, geralmente ocorrendo com as proteínas destes alimentos. Acredita-se que 3,5 a 4% da população apresente algum tipo de alergia alimentar, e apesar de ser mais frequente nas crianças, pode se desenvolver na idade adulta. Existem dois tipos de respostas alérgicas: a imediata e a tardia. A resposta imediata é mediada por um anticorpo chamado imunoglobulina E (IgE), e os sintomas acontecem minutos após a ingestão do alergênico. Na alergia tardia, o processo é mediado por células, com os sintomas ocorrendo após 48 a 72 horas da ingestão do alimento. O melhor exemplo de alergia tardia é a Doença Celíaca, em que há alergia à gliadina (proteína do glúten).
As alergias mediadas por IgE ou imediatas são as mais importantes, já que a ingestão inadvertida de alimentos em grande quantidade por pessoas alérgicas podem levar ao risco de morte por quadro anafilático. De qualquer forma, como o grau de tolerância é pequeno nestes pacientes e encontrar a dose segura do alergênico é muito difícil, recomenda-se que a ingestão dos alimentos causadores do processo alérgico seja completamente evitada, prevenindo-se assim de um risco desnecessário. A hereditariedade é um fator predisponente importante quando se pensa em alergias, incluindo as alimentares, já 65% das pessoas comprovadamente alérgicas têm um parente de primeiro grau com o mesmo quadro. Um número enorme de sintomas pode se apresentar nos quadros de alergia, variando desde sintomas leves até condições severas e de morte iminente. A natureza dos sintomas e a sua gravidade dependerão de diversos fatores, incluindo características individuais, a quantidade de alimento ingerido e o intervalo entre a última crise. No caso das alergias alimentares, sintomas gastrointestinais, cutâneos e respiratórios (menos comuns) podem se apresentar, sendo eles: (1) gastrointestinais: náusea, vômito, diarreia, dor abdominal e alergia oral; (2) cutâneos: urticária, dermatite e coceira; (3) respiratórios: rinite, conjuntivite, asma e edema de laringe. Os principais alimentos desencadeantes de reações alérgicas alimentares são o glúten, o leite, a soja, o ovo, os crustáceos, os peixes, o amendoim e as castanhas. Estes alimentos fazem parte do grupo chamado “the big eight” (os oito grandes), e são responsáveis por mais de 90% dos casos de alergia por alimentos. Todos os peixes podem estar envolvidos, mas os mais comuns são o salmão e o bacalhau. Nos crustáceos, os principais são o camarão, a lagosta, o caranguejo e o lagostim. Quanto aos ovos, o branco é mais alergênico. Em relação às castanhas, as mais envolvidas são a amêndoa, as nozes, a castanha de caju, a castanha do Pará, a macadâmia e a avelã. Felizmente, mais de 85% das crianças não apresentarão resposta alérgica à ingestão de leite e ovos após os 10 anos, e praticamente todas conseguirão aceitar a soja e o glúten. No entanto, apesar de sabermos que estes alimentos são os mais relacionados a processos alérgicos imediatos, qualquer alimento que contenha proteína pode gerar uma resposta alérgica. Na literatura médica há mais de 160 alimentos descritos como desencadeantes de alergias alimentares. O diagnóstico das alergias alimentares é feito através da história clínica, de testes de sensibilização e da sorologia da IgE em relação aos alergênicos mais comuns.
A intolerância alimentar é uma outra categoria de reações adversas ligadas a ingestão de certos tipos de alimentos, que afeta apenas alguns indivíduos e que não é desencadeada por fatores imunlológicos. O exemplo mais comum de intolerância alimentar é a que ocorre com a lactose. Esta intolerância decorre da produção deficiente de uma enzima chamada lactase, impedindo assim a metabolização da lactose. Como a lactose não é absorvida, ocorre dentro do intestino um processo de fermentação e de osmose, gerando aumento de gases intestinais, distensão abdominal, dor abdominal (cólicas) e diarreia. O tratamento usual desta é intolerância é evitar o leite e lactícinios que possuam lactose.
Desta forma, o importante é que tanto a alergia quanto a intolerância alimentar existem em nosso meio, podem causar uma série de sintomas gastrointestinais, e que devem ser sempre lembrados por médicos quando se deparam com tais pacientes. Além disso, fica claro que há a necessidade de orientação nutricional e nutrológica especializada para que a retirada da dieta de algum alimento e de seus componentes não traga repercussões nutricionais deletérias.

Dados do autor:
Dr. Fernando Valério
Gastroenterologista, Nutrólogo e Proctologista
São Paulo, SP
Consultas: particulares e Omint

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Dr. Fernando Valério