Sensibilidade ao glúten e intolerância ao glúten (Doença Celíaca): qual a diferença?

Sensibilidade ao glúten e intolerância ao glúten (Doença Celíaca): qual a diferença?

Atualmente há um número crescente de pessoas que não utilizam alimentos que contenham glúten em sua dieta. Este fato é tão relevante que há uma projeção de que 15 a 25% dos americanos busquem alimentos livres de glúten. Além disso, estamos falando de um negócio gigantesco,  com estimativa de lucro só no mercado americano em torno de 1,69 bilhão de dólares até 2015. Mas qual a razão para isto, será que há um modismo, uma superestimativa destes números ou há realmente uma causa clínica que justifique esta situação? Obviamente, pensando em causas médicas para este comportamento, a doença celíaca (intolerância ao glúten) seria sempre a mais importante. No entanto, algumas pessoas que não são intolerantes ao glúten, ou seja, que apresentam sensibilidade ao glúten sem o diagnóstico de doença celíaca, também podem se beneficiar da dieta livre de glúten. O objetivo desta publicação é diferenciar estas duas condições.

Um nítido problema para aqueles que atuam nas áreas de Nutrologia e Nutrição consiste na dificuldade em manejar pacientes que descrevem sintomas digestivos dependentes da ingestão do glúten, mas que não apresentam doença celíaca (intolerância ao glúten) comprovada através de exames laboratoriais (como a dosagem de anticorpos antitransglutaminase tecidual e antiendomísio) e biópsia intestinal com “achatamento” da mucosa. Esta nova síndrome tem recebido inúmeros nomes, como sensibilidade ao glúten, hipersensibilidade ao glúten, intolerância ao glúten não-celíaca e sensibilidade ao glúten na ausência de doença celíaca (termo preferido). Quando se fala em incidência, a intolerância ao glúten (doença celíaca) acomete 1 a cada 100 pessoas. Estima-se que a sensibilidade ao glúten seja ainda mais frequente, mas este valor ainda não foi definido devido às dificuldades em se firmar um diagnóstico de certeza, já que não há algum exame comprobatório eficaz até o momento. A sensibilidade ao glúten na ausência de doença celíaca está associada a sintomas intestinais variados, sendo os mais frequentes a diarreia, desconforto abdominal, dor abdominal, aumento de gases intestinais (flatulência) e distensão abdominal. Alguns ainda descrevem alguns sintomas extra-intestinais, como dor de cabeça (cefaleia), letargia, déficit de atenção e úlceras em cavidade oral (boca) recorrentes. No caso da sensibilidade, estes sintomas desaparecem com a retirada do glúten da dieta.

Atualmente a pesquisa em todo o Mundo pela associação do glúten aos sintomas gastrointestinais na ausência de doença celíaca tornou-se uma “febre”, visto que hoje a relação entre a pesquisa sobre este tema em sites de busca e o número de trabalhos científicos publicados é de quase 5000, o que é 1o vezes mais que a relação existente para doenças importantes como o câncer de mama, Alzheimer, câncer de pulmão e a própria doença celíaca. Dados como este mostram por si só a necessidade de se estudar esta doença com mais profundidade e de se valorizar as queixas dos pacientes. Ainda não há definição do por que esta sensibilidade se desenvolve na ausência de uma resposta imune clara, como ocorre na intolerância ao glúten.

Em razão da variação de queixas e sintomas relacionados ao glúten, um consenso sugeriu uma nova classificação sobre o tema. Foram distinguidos três diagnósticos desencadeados pela dieta com glúten: doença celíaca (intolerância ao glúten), alergia ao trigo e sensibilidade ao glúten não celíaca. Na prática, a sensibilidade ao glúten não celíaca é uma forma de alteração na resposta ao glúten quando a doença celíaca e a alergia ao trigo foram excluídas.

Como ainda não há uma definição clara sobre as razões para que o glúten possa gerar um quadro de sensibilidade, especula-se algumas causas para que a retirada do glúten da dieta possa trazer benefícios a pacientes com sensibilidade, inclusive outros componentes do trigo. Uma hipótese é que alguns açúcares de cadeia curta, como os frutanos, que são substâncias que aumentam a fermentação no interior do intestino, possam gerar os sintomas citados. Assim, a retirada do glúten, pode mesmo que não intencionalmente, reduzir a ingestão dos frutanos, evitando os seus efeitos.

Desta forma, o importante é que estes pacientes sejam ouvidos com atenção e que os médicos que os atendam tenham em mente esta possibilidade diagnóstica.  Além disso, sugiro que indicação da retirada do glúten da dieta seja orientada por um profissional capaz de tomar tal decisão, já que deverá haver a reposição de outras fontes de fibras, que são extremamente importantes para o bom funcionamento do intestino, diminuição da absorção de açúcares e gorduras, além de ajudar no controle do colesterol.

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Postado por:

Dr. Fernando Valério